Hospitalidade na Família: um Dom de Amor

A hospitalidade é uma característica pessoal que expressa concretamente uma compreensão amadurecida do Evangelho. Quando a hospitalidade, expressada no contexto familiar, a família torna-se um berço de acolhida, doação fraterna e de cuidado recíproco. Desta forma, a casa torna-se o local da partilha, onde todos colocam em comum suas riquezas e pobrezas, aumentando assim o sentimento de pertença ao círculo familiar.

A hospitalidade é um aspecto da dimensão humana que impulsiona para uma convivência aberta ao próximo. Ser aberto é assumir uma postura de saída de si para ir ao encontro do outro em suas alegrias, possibilidades e conquistas, mas sobretudo nas tristezas, misérias e carências. Assumir esta postura é colocar-se com total disponibilidade e gratuidade para com todos que se aproximam, necessitados de atenção, amparo e cuidado. A hospitalidade é uma virtude. É possível adquiri-la nas vivências cotidianas, a saber, nos gestos de carinho, na saudação cordial de bom dia no encontro pela manhã, na atitude afetuosa de despedida no fim do dia, no cultivo de relações solidárias em família, entre outros.

Jesus ensinou com gestos concretos como agir no trato com as pessoas, para que estas se sintam dignificadas como pessoa humana e desejosas de permanecerem no seio da família. Ao ser perguntado qual o maior dos mandamentos, Jesus respondeu: “Ame ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma e com todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Ame o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37-40). Jesus coloca o amor como viés fundamental para uma vivência autêntica do Evangelho, seja no encontro pessoal com Deus, como no encontro comunitário. Aqui, o outro é a expressão daquilo que sou, pois, o outro é para mim uma oportunidade de amar.

A família é um espaço do crescimento e desenvolvimento afetivo. É cultivando círculos de relacionamentos fraternos no ambiente familiar que os laços familiares se formam e dão sustentação para uma vida em comunhão. Para tanto, é necessário ressaltar o papel a ser desempenhado por cada um, para que a família corresponda ao mandamento do amor ensinado por Jesus.  A mãe é o berço, na qual todos buscam o acolhimento em momentos de desolação. Colo quando a tristeza se faz presente por alguma decepção, ou mesmo por necessidade de abraço e afeto. Ela também é acolhedora, pois recebe a todos com generosidade encantadora e alegria maternal. O pai é protetor e acolhedor. Quando algum perigo ameaça tirar a paz ele protege cuidadosamente os seus. O patriarca é atencioso, quer dizer, escuta o desabafo, as conquistas e os desafios de cada um. Ele é um parceiro alegre e afetuoso. De poucas palavras em muitos casos, mas sempre com um coração humano e terno, impossível mensurar. Os filhos são a alegria dos pais. Na descontração buscam interagir com todos ao ponto de nada os conter. A infância é o momento das boas experiências, sendo tais essenciais para formação da personalidade da criança. Por isso não pode faltar, carinho, afeto, amor e paciência com os pequenos. Ao analisar a família em um contexto mais amplo o documento Amores Laetitia: sobre o amor na família do Papa Francisco, declara:

“O Núcleo familiar […] não deve isolar-se da família alargada, onde estão os pais, tios, os primos e até os vizinhos. Nesta família ampla, pode haver pessoas necessitadas de ajuda, ou pelo menos de companhia e gestos de carinho, ou haver grandes sofrimentos que precisam de conforto.” (2016 p.116)

Nas palavras do Papa, percebe-se uma preocupação com o ciclo de relacionamentos dentro do âmbito da família, afim de gerar redes de hospitalidade e cuidado mútuo entre os parentes.

A casa é o local do encontro fraterno, onde cada pessoa pode e deve colocar em comum, tudo aquilo que produz em sua vida, desde suas mais sofridas experiências nas labutas diárias, bem como suas vitórias, seja na profissão, na dimensão espiritual, no lazer ou em qualquer outra atividade que venha a realizar.  O lar é o espaço propício para viver plenamente a intimidade. É neste ambiente que a pessoa é capaz de despir-se plenamente das posturas rígidas e exigentes ditas pela cultura do mundo líquido moderno. Desta forma, o ambiente familiar é também um espaço de humanização, uma vez que a liberdade e a intimidade com o outro possibilita o contato direto com as realidades mais profundas de cada pessoa. É nesta relação íntima e aberta que os laços familiares se fortalecem e contagiam a todos.

A hospitalidade, quando vivenciada com total doação na família, deve abrir-se também para o convívio com a comunidade. Sendo assim, não pode faltar num lar hospitaleiro o acolhimento fraterno e solidário dos irmãos e irmãs que necessitam de caridade e amor. O filósofo Leonardo Boff, ao abordar o tema da acolhida, em sua obra “Virtudes para um outro Mundo Possível”, diz que:

“A acolhida não deve ser vivida como uma condenação por que não temos saída. Devemos viver a acolhida jovialmente como quem vê no outro um próximo, um companheiro de caminhada, um irmão e uma irmã, membros da grande família humana, […] reunida na mesma Casa Comum”. (2005, p.167)

Desta forma, a hospitalidade deve ser uma característica da família cristã. Tendo em vista que viver hospitaleiramente requer abertura, escuta, cuidado, partilha. Estas são virtudes que Jesus demonstrava quando em contato com as pessoas que a ele acorriam. Ele convida a cada um, a viver a acolhida fraterna, como um dom de amor e afirma, “Todas as vezes que fizerem isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25,40).

Referências Bibliográficas:

BÍBLIA. N. T. João. Bíblia Sagrada. Reed. Versão de José Luiz Gonzaga do Prado. São Paulo. Pastoral. 1990. V. 41, p.1210,1214.

FRANCISCO Papa. A vida na família em sentido amplo. Amores Laetitia: sobre o amor na família. 1ª ed. São Paulo. Paulus. 2016. p.116

BOFF Leonardo. Atitudes e comportamentos de hospitalidade: Acolher generosamente. Virtudes para um outro mundo possível, Vol. 1: Hospitalidade direitos e deveres de todos. 1ª ed. Petrópolis-RJ. Vozes. 2005. p.167.

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