O INDIVIDUALISMO CRISTÃO EM TEMPOS DE CRISES SOCIAIS

Cosme da Rocha
Seminarista e acadêmico do 2º período de Filosofia do Centro Universitário Católico de Vitória

Nem tudo pode ser vislumbrado como bom nos últimos momentos da história. Apesar de muitos avanços sociais, infelizmente políticas retrocedem aquilo que deveria ser o bem para o povo. Assim, como cuidar exige senso de boa conduta e administração (Cf. Jo 6, 10), Jesus convida a todos se sentarem, estarem no mesmo nível, a não haver diferenças – o cristão precisa conceber a cultura do comum.
Muitos gritos ecoam de muitas entidades que buscam promover um bem social, bem como a promoção de ideais de justiça e igualdade a todos. Permanecer inerte frente a tantas situações contra aos mais desfavorecidos da sociedade é uma grave realidade a que o ser humano adotou para si. O ignorar o ser do outro em detrimento dos interesses próprios mostra ainda como o velho homem impera sob a humanidade sonhada para o amor.
Os primeiros propagadores da fé (Cf. At 2, 42-47) inspiraram o desejo real da comunidade capaz de se abrir as angústias, dificuldades e mazelas dos mais pequenos. Quantos homens e mulheres são esquecidos, mutilados e negligenciados todos os dias! O Papa Francisco aponta isso na Laudato Si, nº 123:

 A cultura do relativismo é a mesma patologia que impele uma pessoa a aproveitar-se de outra e a tratá-la como mero objeto, obrigando-a a trabalhos forçados, ou reduzindo-a à escravidão por causa duma dívida. É a mesma lógica que leva à exploração sexual das crianças, ou ao abandono dos idosos que não servem os interesses próprios.

Tomar cuidado com estas realidades é necessário para o cristão. Este, quando não vê as disparidades contra o seu próximo é semelhante ao homem rico que na teoria sabia o tudo para se compor a fé, mas na prática, seu poder, suas riquezas, o distanciavam do outro, o mantinha cego perante a dor alheia. Porém, Jesus indica uma esperança, se “para os homens é impossível, não para Deus; tudo é possível para Deus” (Mc 10, 27). Afinal, todos caídos sob o julgo do pecado, todos perecem dos mesmos males, mas redimidos pelo amor daquele que amou a todos até o fim solicitou o mesmo: “Amai-vos uns aos outros, como eu vou amei: amai-vos assim uns aos outros.” (Jo 13, 34)
O Deus misericórdia não abandonou o seu povo, mas assim como o bom samaritano convidou o amor ao próximo independente de sua identidade, condição e aparato para promover o bem (cf. Lc 10, 25-37). O ato de agir para o bem enaltece a condição inata do ser humano num ideal que o mesmo carrega em si: de ser feliz. Ninguém consegue viver uma felicidade verdadeira distante do outro. A cada um foi dada uma felicidade única, ímpar.
O rompimento de tudo aquilo que impede a promoção da vida precisa ser tarefa contínua de todos na busca de uma sociedade melhor. O mundo carece de protagonistas capazes de fazer o bem. Todos precisam ser convocados a buscarem esta condição social capaz de dar esta tranquilidade e paz necessárias a todos os povos. Portanto, seja a crise superada pela unidade em meio as diferenças de cada indivíduo em prol da vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BÍBLIA DO PEREGRINO. Edição de estudo. Luís Alonso Schökel. Paulus, 2011
LAUDATO SI. Sobre o cuidado da casa comum. Carta Encíclica do Santo Padre Francisco. Diocese de Umuarama, 2015.

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