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19 de junho de 2020

Carta aos presbíteros pelo Dia de Oração pela Santificação do Clero


São Mateus-ES, 19 de junho de 2020

“A medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós. Não te santificarás se não te entregar.”

Ao querido Dom Aldo, aos amados presbíteros e diácono e a todo povo santo de Deus,

“Ser santo é ser pobre de coração, reagir com humildade e mansidão; ser santo é saber chorar com os outros, é buscar a justiça com fome e sede; é olhar e agir com misericórdia, é manter o coração limpo de tudo que mancha o amor; é semear a paz ao nosso redor; é abraçar diariamente o caminho evangélico, mesmo que isto nos acarrete problemas” (Dom Geraldo Lyrio Rocha).

No dia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a Igreja Católica celebra o Dia de Oração pela Santificação do Clero. Neste ano (2020), tem como ponto de partida uma carta enviada pelo Papa Francisco, no dia 4 de agosto de 2019, aos presbíteros do mundo inteiro, por ocasião do 160º aniversário da morte do Santo Cura d’Ars, patrono dos Presbíteros, para agradecer-lhes pelo generoso serviço e encorajá-los a abraçar com amor a sua vocação.

A nota propõe cinco palavras para o Dia de Santificação do Clero: um coração agradecido, misericordioso, compassivo, vigilante e corajoso. Neste precioso texto, o Santo Padre usa com frequência a palavra “coração”, associando o coração do sacerdote ao Coração de Cristo Bom Pastor. Deus seja louvado pelo “sim” de cada presbítero, pela vida e pelo serviço prestado à Igreja e a Jesus Cristo. Inspirado nas mesmas virtudes do Santo Padre, o Papa Francisco, em poucas palavras, faço chegar a vocês parte desta carta regada de amor e cuidado:

A) GRATIDÃO: “Muito obrigado pela alegria com que soubestes dar a vossa vida, mostrando um coração que ao longo dos anos combateu e lutou para não se tornar estreito nem amargurado e, pelo contrário, ser diariamente alargado pelo amor de Deus e do seu povo. Um coração que, como o bom vinho, o tempo não azedou, mas deu-lhe uma qualidade cada vez mais fina; porque ‘é eterna a sua misericórdia'”.

Ser sacerdote segundo o Coração de Cristo significa revestir-se dele até ao ponto de ter os seus mesmos sentimentos. Entre tantas virtudes, o Coração de Jesus está aberto à gratidão; ele agradece ao Pai pelos prodígios que realiza aos olhos dos pequenos, escondendo-os a quem, ao invés, fechado na presunção da sabedoria humana, não consegue vê-los (cf. Mt 11,25). Ser sacerdote é ter um coração agradecido, semelhante ao Coração de Cristo.

B) MISERICÓRDIA: “Através dos degraus da misericórdia, podemos descer até ao ponto mais baixo da condição humana – fragilidade e pecado incluídos – e subir até ao ponto mais alto da perfeição divina: ‘Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso’. E assim, ser ‘capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar à noite com elas, de saber dialogar e também de descer à sua noite, à sua escuridão, sem se perder'”.

Quando Jesus atravessa as aldeias e as cidades, passa curando e fazendo bem a todos os que estão prisioneiros do mal (cf. At 10,38). Jesus não tem medo de se contaminar com a fragilidade humana, mas, antes, desce aos abismos da fragilidade humana e do pecado, para revelar o Coração misericordioso do Pai que levanta das quedas cada um dos seus filhos e os chama à alegria do perdão. O nome de Deus que Jesus revela é “misericórdia”. O sacerdote, configurado com Cristo, é antes de tudo o ministro da misericórdia e da reconciliação. O coração misericordioso do presbítero revela o coração misericordioso de Jesus.

C) COMPAIXÃO: “Muito obrigado por todas as vezes em que, deixando-vos comover até às entranhas, acolhestes os que tinham caído, curastes as suas feridas, oferecendo calor aos seus corações, mostrando ternura e compaixão como o samaritano da parábola (cf. Lc 10,25-37). Nada é tão urgente como isto: proximidade, vizinhança, estar próximo da carne do irmão que sofre. Quanto bem faz o exemplo de um sacerdote que se aproxima e não se afasta das feridas dos seus irmãos? Reflexo do coração do pastor que aprendeu o gosto espiritual de se sentir um só com o seu povo”. Os Evangelhos narram, com frequência, que Jesus, à vista das multidões cansadas e oprimidas, sente profunda compaixão (cf. Mt 9,36). O coração de Jesus é compassivo. Aos sacerdotes, ministros de Cristo, pede-se o mesmo coração…

E) VIGILÂNCIA: “Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou conosco mesmos, podemos correr a tentação de nos agarrar a uma tristeza adocicada, a que os padres do Oriente chamavam acédia… Tristeza que torna estéreis todas as tentativas de transformação e de conversão, propagando ressentimento e animosidade… Quando essa tristeza adocicada ameaça apoderar-se da nossa vida ou da nossa comunidade, peçamos ao Espírito Santo de Deus que venha despertar-nos, dar um abanão ao nosso torpor e libertar-nos da inércia!”

 Muitas vezes, Jesus recordou a importância da vigilância do coração que, como servos fiéis, nos faz esperar com prontidão a vinda do dono da vinha; trata-se de dar espaço ao dom do Espírito Santo que, mesmo no meio dos compromissos diários e das obscuridades do tempo presente, nos faz discernir a presença do Senhor, nos torna atentos à sua Palavra, nos faz operosos na caridade, de modo que não se esgote o azeite na lâmpada da nossa vida e, como as virgens prudentes, vamos ao encontro do Esposo que vem. “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mt 26,41). O coração vigilante do presbítero é o reflexo do coração vigilante de Jesus.

F) CORAGEM: “Para manter o coração corajoso, é necessário não descurar estes dois vínculos constitutivos da nossa identidade: o primeiro, com Jesus. Sempre que nos desligamos de Jesus ou descuramos a nossa relação com ele, pouco a pouco, o nosso compromisso torna-se árido e as nossas lâmpadas ficam sem azeite e sem condições de iluminar a vida (cf. Mt 25, 1-13)… Neste sentido, queria encorajar-vos a não descurar o acompanhamento espiritual, tendo um irmão com quem falar, confrontar-se, discutir e discernir em plena confiança e transparência o próprio caminho… O outro vínculo constitutivo: reforçai e alimentai o vínculo com o vosso povo. Não vos isoleis da vossa gente, nem dos presbíteros ou das comunidades.  Contemplando o Coração corajoso de Jesus, podemos captar os dois vínculos fundamentais, a partir dos quais ele vive a sua missão: o Pai Celeste e o povo… O sacerdote, segundo o Coração de Cristo, é aquele que ‘habita’ entre o Senhor a quem consagrou a vida e o povo que foi chamado a servir.”

As cinco palavras propostas para o Dia de Santificação do Clero referem-se a um coração sacerdotal realmente “consagrado” ao de Cristo, ou seja, radicado na relação pessoal com Ele e por isso configurado aos seus mesmos sentimentos.

Conforme já mencionei em cartas anteriores, o presbítero não é somente as mãos que consagram, mas a Eucaristia, que se consome no amor e na missão, conquistado pelo ideal de serviço, a exemplo do Cristo Bom Pastor e servo por amor, “que veio para servir e não ser servido” (cf. Mc 10,45).

Como é bom reconhecer, agradecer e celebrar com grande júbilo a vida e a importância de cada presbítero em nossa história, solene dádiva de Deus em nossa Igreja. Nesta Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, eu, Dom Paulo Bosi Dal’Bó, aproveito a oportunidade para agradecer a todos  os presbíteros pela nobre missão de serem comigo cooperadores, conselheiros no ministério e no múnus de ensinar, santificar e apascentar o povo santo de Deus.

Na função de pai espiritual desta amada e abençoada Diocese de São Mateus, conclamo a todos os filhos e filhas a amarem e rezarem pelos nossos incansáveis presbíteros, clamando a Deus, nosso Pai, saúde, proteção, bênçãos e graças a todos eles e a toda a Santa Mãe Igreja.

JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!

Jesus, manso e humilde de coração, fazei do nosso coração semelhante ao Vosso!

Fraternamente!  

     DOM PAULO BOSI DAL’BÓ
BISPO DIOCESANO

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