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19 de fevereiro de 2018

Homilia de Dom Paulo na Missa de Aniversário de 60 anos da Diocese de São Mateus


16 de fevereiro de 2018

– Reverendíssimos e amados Presbíteros. Estimados, Religiosos e Religiosas, Seminaristas, autoridades constituídas ou representadas, aos irmãos e irmãs de outras denominações religiosas e todo povo santo de Deus, minha saudação fraterna a todos.

– Com amor de pai saúdo o Seminarista Edson Delfino, que hoje com o ministério de Acólito dá mais um passo importante em sua caminhada vocacional. Passo fundamental que antecede o seu processo de discernimento e preparação para a Ordenação Diaconal. Com ele, acolho, saúdo e agradeço seus pais e familiares por doar este filho à Igreja.

– Deus seja louvado por tantas mãos humanas que fizeram e fazem parte desta história. Os bispos Dom José Dalvit, Dom Aldo Gerna e Dom Zanoni Demettino Castro. Os presbíteros diocesanos e religiosos, aqui, eu destaco os Combonianos(as) semeadores(as) da missão e os que vieram de Vitório Vênoto, os presbíteros atuais e todos os outros que passaram por esta Diocese. Lembro e agradeço todas as religiosas em suas variadas congregações, leigas consagradas e seminaristas. No espírito do Ano do Laicato saúdo e agradeço todos os nossos apaixonados e incansáveis leigos e leigas que tanto amam e fazem por esta Igreja.

– Com o tema: “IGREJA PROFÉTICA E MISSIONÁRIA A SERVIÇO DA VIDA” e com o lema: “A MISSÃO CONTINUA”, revisitamos e celebramos a nossa história. São 60 anos de caminhada de fé em nossa amada Diocese de São Mateus. No espírito dos 60 anos (21/09/17 A 21/09/18) teremos uma vasta e encantadora programação: no dia 21 de cada mês haverá celebrações em todas as comunidades da Diocese, celebrando a história; visitas em todas as famílias com bênçãos, orações e cadastramento (uma espécie de radiografia sacramental e pastoral); questionário de identificação (cadastramento) dos fiéis, que estão inseridos nas pastorais, movimentos e conselhos comunitários; questionário para ouvir o povo de Deus; assembleias paroquiais e nas Foranias; peregrinação das Foranias na cidade de São Mateus com celebrações na Catedral; etc.

– A liturgia de hoje, vem ao encontro do que nos propomos a celebrar nesta caminhada de fé.

No início, uma Igreja profética sem perder a sua missionariedade. Muitos profetas e missionários, entregando a própria vida por amor a Jesus Cristo e a Igreja. Amor à vida humana e a natureza em suas mais diversas e variadas formas.

– Profetas e Missionários, como fontes de água cristalina, que nascem em diversos lugares, encontram-se neste Oasis fecundo de São Mateus, formando um único rio, a querida e amada Diocese de São Mateus. E hoje, à luz das sábias palavras do profeta Ezequiel, somos convidados a voltar às fontes, entrar no Templo. “O homem fez-me voltar até a entrada do Templo e eis que saía água de sua parte subterrânea” (Ez 47,1). Água saudavél que jorra para todos os lugares. Saciando a sede de todas as criaturas. Trazendo saúde e vida por onde passar, fazendo produzir remédio e frutos que jamais se acabarão. Esta também é a missão da Igreja. Nossa Igreja. Que tipo de água jorra em nosso Templo ou em nossa Diocese? Que fontes somos nós? Que sementes lançamos e que frutos colhemos? Será que no encontro das águas ou das diversas fontes formamos um único rio? Será que a água que jorra do nosso Templo, de nossa Diocese, sacia a sede do povo?

– No Evangelho, Jesus dá mais um passo de grande relevância. Ele é o novo Templo. Mas antes de fazer esta afirmativa, Ele entra no Templo e percebe que o Templo foi corrompido. O lugar onde deveria celebrar a festa da liberdade e da vida, de repente se transformou num comércio de exploração.

– Jesus vai à festa, não para participar dela nestas condiçoes, mas sim, para realizar um confronto com a prática de comércio e exploração, que se realizava no Templo.

– Os vendedores de animais e cambistas exploravam o povo. Principalmente os pobres. Eles compravam um boi do povo do interior (ou dos peregrinos) no valor de uma pomba e vendiam uma pomba no templo no valor de um boi. A oferta de pombas era a oferta dos pobres. Para os sacrifícios, os peregrinos não podiam mais levar seus animais de casa. Deveriam comprar ao chegar ao templo, ou seja, mais uma forma de explorar os pobres. Havia outros abusos em nome do Santuário. Muitas vezes, algumas ofertas eram oferecidas a Deus e outras não.  Muitas retornavam às bancas para serem vendidas novamente. Segundo o historiador, Flávio Josefo, um casal de pombas chegava a ser vendido aproximadamente150 vezes.

– Outro elemento importante: só podiam entrar moedas puras no templo, ou seja, toda e qualquer moeda que chegasse, os peregrinos deveriam fazer o câmbio. Os cambistas aproveitavam para explorar na desvaliorização das moedas vindas de fora.

– Jesus entra e coloca ordem no Templo, oferecendo-se a si mesmo. A casa de Deus não pode ser profanada. “Fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse: tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio” (Jo 2,15-16).

– O evangelista João apresenta Jesus como o novo e verdadeiro Templo. Jesus é a habitação de Deus aberta aos homens e mulheres, lugar onde se manifesta a glória de Deus. O Evangelista nos leva a ver Jesus como novo Templo de Israel. Em Jesus, não há espaço para estruturas caducas e vazias. Ele apresenta o Templo como a casa do Pai, convidando-nos a ter com Ele uma relação filial. Filhos e filhas livres no amor para amar e celebrar a vida, não a exploração e a morte. Jesus abre as portas, para que toquemos a Deus de maneira livre e sincera numa relação de filhos e filhas.

– Paulo em sua carta aos Coríntios reconhece Jesus como Templo e alicerce e nos apresenta como santuário de Deus, templo do Espírito Santo. “Ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que está aí, já colocado: Jesus Cristo. Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo, e vos sois este santuário” (1Cor 3,11.16-17). Que relação temos com o Templo hoje? Quais os atos e ritos que perpassam nossa liturgia? Que relação estabelecemos com Jesus, o verdadeiro Templo? Como vemos ou respeitamos o outro como santuário ou templo do Espírito Santo?

– Celebrar os 60 anos de caminhada de fé, é retornar ao Templo. Entrar na história, entrar na Diocese, entrar no Templo e também nos tornar-mos templos de Deus.

– Ao rezar estes textos escolhidos para o aniversário de 60 anos de nossa Diocese de São Mateus, ressoou em meu coração de forma latente e com muita vibração o verbo ENTRAR. Como Bispo desta Diocese, já dizia na Quarta-feira de Cinzas: por que tantas perguntas sem respostas? Tantas guerras e conflitos? Crise na família, na política, na educação, na Igreja, na saúde, nas relações interpessoais, etc.?

Porque estamos fora por diversas vezes, fora de nós mesmos; fora da casa; fora da família; fora do Templo; fora da comunidade (Igreja); fora do trabalho; fora da política, etc. E quando estamos fora, criticamos tudo, odiamos, ofendemos, machucamos as pessoas, não nos envolvemos e não chegamos a lugar nenhum.

– Falar de uma Igreja em Saída, primeiramente é preciso ENTRAR. Antes de enviar seus discípulos Jesus os convida a ouvi-lo e navegar em si mesmos. Em Mateus 6,8 Jesus disse: “quando orardes entra no teu quarto, fecha a porta e reze ao teu Pai que oculto” (Mt 6,8). No Evangelho de hoje, Jesus ENTRA no Templo e a partir do que vê e sente, realiza o confronto e faz os devidos encaminhamentos.

– Antes de tecer qualquer comentário da Diocese, da paróquia, da comunidade, de um Templo, de um plano pastoral, de um projeto, de uma família, de uma pessoa, etc, entre primeiramente, conheça, se encante, se apaixone, se envolva, põe a mão na massa. Tenho certeza de que o resultado será surpreendente e encantador.

– A história que celebramos hoje, é fruto de muito suor e do esforço de tantos homens e mulheres que doaram a vida e continuam se doando em seu jeito de amar. Por isso, os frutos que colhemos hoje, devem se transformar em novas sementes e é nossa missão, continuar a semear.

– Concluo com a última estrofe do hino dos 60 anos da Diocese, o qual fui agraciado na arte de compor:

Nas montanhas, planícies e rios, nas cidades, no campo e no mar.
Nas conquistas, conflitos e encantos, Igreja viva em todo lugar.
Colher os frutos e lançar novas sementes, plantar a vida e soltar a nossa voz.
No passado, no presente e no futuro, somos Igreja, São Mateus, rogai por nós.

     DOM PAULO BOSI DAL’BÓ
BISPO DIOCESANO

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