topo

24 de setembro de 2019

Homilia de Dom Paulo na Festa de São Mateus 2019


21 de setembro de 2019

HOMILIA: POR UMA IGREJA EM SAÍDA

– Excelentíssimos e Reverendíssimos Arcebispos e Bispos: Dom Joaquim Wladimir, Bispo de Colatina; Dom Aldo Gerna, Bispo Emérito de São Mateus; Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo Emérito de Mariana MG; Padre Ivo Amorim, Vigário Geral e Padre Arnóbio representando Dom Dario, Arcebispo da Arquidiocese de Vitória ES.

– Saúdo os Reverendíssimos e amados Presbíteros, Diáconos, Religiosos, Religiosas e Seminaristas. Minha saudação a governadora em exercício Jaqueline Moraes, ao deputado Freitas e ao sargento Valter, chefe do gabinete do governador de Estado do Espírito Santo. Com eles acolho e saúdo todas as demais autoridades constituídas ou representadas. Saúdo com especial carinho a você, querido ouvinte da Rádio Kairós, os que nos acompanham através do facebook, internet e demais meios de comunicação social, aos irmãos e irmãs de outras denominações religiosas e todo povo santo de Deus aqui presente, minha saudação.

– Hoje fazeemos memória do nosso saudoso Dom José Dalvit, nasceu no dia 15 de setembro 1919 e faleceu no dia 17 de janeiro de 1977 (100 anos de seu nascimento e 42 anos do seu falecimento). Tomou posse como primeiro bispo de nossa Diocese de São Mateus no dia 20 de setembro de 1959. (Segue em anexo a esta homilia um pouco de sua história).

– No espírito dos 475 anos da cidade de São Mateus dos 61 anos de caminhada de fé em nossa Diocese, damos continuidade a nossa ação pastoral diocesana, iluminada pelo tema: “IGREJA PROFÉTICA E MISSIONÁRIA A SERVIÇO DA VIDA” e com o lema: “A MISSÃO CONTINUA”.  

– Iluminados por esta temática, apresentamos algumas atividades diocesanas realizadas da festa de São Mateus de 2018 à festa de 2019: Encontro das Equipes, Pastorais e Movimentos; Romaria Diocesana do Terço dos Homens no Santuário em Vinhático e Convento da Penha; Encontro diocesano das mães que oram pelos filhos; Jesus no Litoral, Retiro de carnaval – Alegrai-vos; Encontro Diocesano da Juventude; Encontro Diocesano da Pastoral da Educação; Escola catequética; A criação do curso do INAPAF (Instituto Nacional da Família e da Pastoral Familiar); Encontro diocesano da IAM (Infância e Adolescência Missionária); Encontro de formação justiça restaurativa organizado pela pastoral carcerária; Assembléia da pastoral da criança; Encontro diocesano da Pastoral da Pessoa Idosa; Cursilho de Cristandade; Encontro diocesano da RCC (Renovação Carismática Católica); Ordenação presbiteral do Pe. Edson Delfino e do Pe. Aécio Honorato; Miniassembleia Diocesana (novembro 2018);

– À luz do Projeto dos 60 anos tivemos: Visita às famílias, em algumas paróquias; Assembleias paroquiais e também nas Foranias, identificando as principais ameaças, fraquezas, forças, prioridades em nosso cenário atual; montagem do quadro/planejamento pastoral em preparação à assembleia geral diocesana, que acontecerá em novembro de 2019; Romaria Diocesana ao Convento da Penha, ao Santuário de Nossa Senhora da Saúde em Ibiraçu e ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida/SP; VI Romaria Diocesana das Famílias em Vinhático; Encontro Estadual Fé e Política em São Gabriel da Palha; Encontro de agentes (padres, religiosos e religiosas); IX Romaria da famílias  no contexto da festa de São Mateus, saindo de Guriri até Catedral; Encontro de convivência com os padres por faixa etária; Retiros e formação permanente do clero; Elaboração do projeto e criação da Pastoral Presbiteral; Inauguração da casa sacerdotal “Bom Pastor” em Guriri; Crismas e Festa dos(as) Padroeiros(as) nas várias paróquias de nossa Diocese; Diversos encontros de formação das pastorais e movimentos em nossa Diocese e tantas outras atividades. Foram e são muitas mãos humanas envolvidas nesta missão. Por todas as pessoas envolvidas neste belíssimo trabalho, peço uma grande salva de palmas.

– Uma Igreja profética e missionária a serviço da vida, sempre a caminho, em comunhão com a conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), acolhendo com amor e encanto as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) e tantas outras iniciativas da CNBB.

– Em comunhão também com  o papa Francisco e com suas inspirações: o Sínodo da Amazônia (06 a 26/10/19, no Vaticano), o mês missionário extraordinário (outubro de 2019), que traz como tema: BATIZADOS E ENVIADOS: A IGREJA DE CRISTO EM MISSÃO NO MUNDO, onde a cruz missionária percorrerá todas as Paróquias de nossa Diocese. Comemorando o centenário da promulgação da Carta Apostólica Maximum illud, com a qual Bento XV quis dar novo impulso à responsabilidade missionária de anunciar o Evangelho. Esta ação missionária 100 anos depois tem como objetivo despertar a consciência da missio ad gentes (missão aos povos) e retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral, de modo que todos os fiéis tenham verdadeiramente no peito a marca do Evangelho e a transformação das suas comunidades em realidades missionárias e evangelizadoras (cf. EG 268). Que cada cristão batizado assuma sua vocação missionária a partir do batismo.

– As coisas não podem continuar como estão: “Neste momento, não nos serve uma ‘simples administração’. Constituamo-nos em ‘estado permanente de missão’, em todas as regiões da terra”. Não basta o esforço da autopreservação, mas uma atitude constante de “saída”, diz o Papa Francisco.

– A novena em preparação à festa de São Mateus deste ano foi uma grande luz para uma Igreja em saída. Teve como tema “As parábolas do Reino, tesouros do Evangelho de Mateus”. Foram refletidas as sete parábolas do capítulo 13 do Evangelho de Mateus, convidando todos os batizados a se tornarem discípulos missionários na construção do Reino. Em cada missa da novena tivemos a presença do pároco e do vigário da Forania Praiana acompanhados dos fiéis de suas respectivas paróquias.

– E a liturgia de hoje reforça a necessidade de manter a comunhão e a unidade por uma Igreja missionária. A primeira leitura (Isaías 52,7-10) nos aponta caminhos precisos, ao afirmar, que mesmo em meios aos conflitos, dificuldades e mortes, Deus reina, a iniciativa é dele, e “como são belos sobre os montes os pés dos mensageiros que anunciam a paz, que trazem a boa notícia, que anunciam a salvação” (Is 52,7). “Seus guardas levantam a voz, juntos cantam de alegria, pois estão vendo frente a frente o Senhor”. Em cantos de alegria rompam as ruínas de Jerusalém, porque o Senhor se compadece do seu povo… Todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus. (Cf. Is 52,7-10).

– A grande boa notícia de Isaías (poderíamos dizer o Evangelho de Isaias) é a salvação: os exilados vão voltar da Babilônia e Deus tornará a reinar em Sião. A reconstrução é motivo de alegria para o povo, mas é acima de tudo sinal da misericórdia de Deus. Deus ama o seu povo e jamais o abandonará. Deus salva o seu povo porque ama. Os pés desses mensageiros são formosos e são bem-vindos, porque trazem boas notícias de uma batalha vitoriosa.

– Para os que creem, os pés dos mensageiros são belos, porque transmitem novas todas as coisas. Uma das coisas mais belas na comunicação dos mensageiros é o amor de Deus. A boa nova que os mensageiros anunciam é que Deus providenciará a libertação do seu povo. Esses mensageiros devem servir como os missionários do Evangelho do Novo Testamento na carta de Paulo aos Romanos (Rm 10,15). “Como poderão anunciar se ninguém for enviado?…Como são belos os pés daqueles que anunciam boas notícias”! (Rm 10,15). 

– Ao sair da opressão, o povo não deverá carregar nenhum vestígio da opressão, mas sim, a alegria de viver servindo ao único Senhor. Esta deve ser também a missão cotidiana dos que aderem ao Senhor e seus preceitos nos dias atuais. Somos homens e mulheres da esperança. Unir as forças e acreditar em dias melhores. Sair do universo das lamúrias, do pessimismo e nos alegrar por cada conquista, mesmo que sejam pequenas aos nossos olhos.

– Para anunciar a Boa Notícia de forma plena, Paulo dá mais um salto em sua carta aos Efésios (Ef 4,1-7.11-13, proclamado na liturgia de hoje), apresentando-nos algumas condições para melhor evangelizar: humildade, mansidão, capacidade de perdoar, servir e manter o amor acima de tudo. São elementos fundamentais que não podem faltar na vida dos missionários e missionárias por uma Igreja em saída, anunciando o Evangelho com alegria.

– Segundo Paulo, o alicerce e a raiz do amor e da missão têm como finalidade conservar a comunhão e a unidade do Corpo de Cristo na diversidade (cf. Ef 4,1-6). Deus concede dons diferentes a cada pessoa (4,7-13), mas Paulo convida cada um a colocar seus dons e carismas a serviço da vida e do evangelho. O que será de nós se não mantermos esta comunhão?

– A unidade na diversidade dá coesão à comunidade, para que ela não seja dominada por doutrinas que a disperse (4,14-16). As diferenças sejam oportunidades de construir uma Igreja harmoniosa. Em nossa ação missionária encontramos este desafio: harmonizar as diferenças.

– O cenário político em crise, o desemprego, a pobreza, a falta de identidade religiosa, a falta de referência na família, a crise de identidade, etc., têm contribuído para a formação de uma sociedade líquida e egocêntrica. Cresce a cada dia o egocentrismo, o isolamento, o individualismo, a indiferença, as mutilações ou automutilações no mundo da criança e do adolescente, com grau elevadíssimo nas escolas de característica rural, o suicídio, o tráfico, os homicídios, principalmente o alto índice de feminicídio, os vícios, não somente no universo dos entorpecentes, mas sim os vícios virtuais, que se tornaram uma grande epidemia e ameaça a família e as demais relações interpessoais.

– Como em meio a tantos conflitos e desafios nos tornarmos missionários e missionárias por uma Igreja em Saída, servindo ao Senhor com alegria, sem perder o encanto da missão?

– O primeiro aspecto é estar dentro, não fugir da realidade, se fazer próximo, acolher mais, dialogar mais, perdoar mais, rezar mais, conhecer de fato o chão em que estamos pisando. Com quem convivemos? Onde estamos, o que fazemos e o que queremos? Fazer contato com as nossas misérias e valores, para melhor acolher a miséria e os valores do outro.

– Na festa de São Mateus do ano passado eu já dizia: Um dos elementos fortes passa pela conversão pessoal e pela acolhida. E em seguida a conversão familiar, comunitária, escolar e no mundo do trabalho. Jamais chegaremos a uma conversão pastoral ou social, se não houver primeiramente uma conversão pessoal. Mudança de vida e acolhimento.

– Jesus no Evangelho de hoje (Mt 9,9-13) nos ensina como agir. Ele se faz próximo, toma iniciativa, vai ao encontro, acolhe o pecador, oferece oportunidades e transforma o pecador Mateus, um cobrador de impostos, em seu grande aliado na arte de comunicar o Evangelho. Para que isso pudesse acontecer de forma eficaz, Jesus rompe os esquemas sociais, que dividem os homens em bons e maus, puros e impuros. Jesus nos indica caminhos preciosos de uma Igreja em saída, que ouve, acolhe e transforma. Ele sai às ruas, visita as praças, e é justamente numa praça que Jesus encontra com o pecador Mateus. E no passo seguinte, Jesus visita a sua casa, come com ele e com os demais pecadores.  Além de chamar, visitar e cear com Mateus, mais tarde Jesus o envia a pregar o Evangelho a toda criatura.

– Comendo com os pecadores, Jesus mostra que sua missão é reunir e salvar aqueles, os quais a sociedade rejeita. “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim, os doentes… quero misericórdia e não o sacrifício. Eu não vim para chamar os justos, mas sim os pecadores” (Mt 9,12-13). Que maravilha a dinâmica do encontro. Hoje, muitos vivem no mesmo recinto, mas não se encontram, não se comunicam e quando se comunicam a comunicação vem por meios virtuais, faltando o afeto, a proximidade, o diálogo, o abraço, o calor do colo, que é a extensão do útero. Como ser missionário (a) hoje, acolhendo e oferecendo uma oportunidade àqueles que a sociedade rejeita ou que eu próprio rejeito? Como me tornar mais próximo do outro?

– Jesus aceita Mateus, enquanto ainda era pecador. Como resposta, Mateus se apresenta a Jesus como um novo homem, convertido e disposto a segui-lo. O acolhimento de Jesus converte o coração e leva o pecador à missão.  A pedagogia ou metodologia usada pelo profeta Isaias, pelo Apóstolo Paulo e principalmente por Jesus, é o ponto chave para colocarmos em prática o nosso plano pastoral por uma Igreja em saída na alegria do Evangelho. Já imaginaram se em nossa ação pastoral adotássemos com ênfase e seguíssemos esta pedagogia?

– Ao visitar a história a partir da pessoa, das famílias, comunidades, paróquias e foranias, identificamos algumas forças, fraquezas, ameaças e oportunidades.  Além dos quatro pilares das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE): PALAVRA: Iniciação à Vida Cristã e Animação Bíblica; PÃO: Liturgia e espiritualidade; CARIDADE: A serviço da vida; AÇÃO MISSIONÁRIA: Estado permanente de missão; foram colhidas também algumas prioridades para o quadriênio 2019 a 2023: Formação bíblica, catequética e litúrgica das lideranças em vista da iniciação à vida cristã; Visitas e intercâmbios missionários nas comunidades; Conscientização Ecológica; Ação social; Comunidades irmãs; Evangelização das famílias e olhar atento aos jovens. Ao acolher estas prioridades, trata-se de pôr a missão de Jesus no coração da Igreja.

– Muito bem, fizemos e fazemos muito, mas A MISSÃO CONTINUA, temos muito a fazer. Não é somente tarefa do papa, dos bispos, padres, religiosos e religiosas, mas sim, de todos os batizados. BATIZADOS E ENVIADOS: A IGREJA DE CRISTO EM MISSÃO NO MUNDO, este é um dos grandes clamores do papa Francisco. Nosso plano pastoral que será aprovado na Assembléia de 08 a 10 de novembro de 2019, só ganhará força e chegará ao coração das pessoas se todos nós nos envolvermos. Aproveito a oportunidade para informar a todos que 2020 será o Ano Vocacional em nossa Diocese. Não se trata de criar estruturas, mas rezar pelas vocações e pelo êxito do nosso plano pastoral. Precisamos urgentemente rezar mais e implantar a cultura vocacional, ou seja, vocacionalizar as pastorais e movimentos, para que num espírito de comunhão cada cristão, viva com amor sua vocação, que brota da fonte batismal. Conclamo a todos a vestir a camisa da missão e colocar a mão na massa, pois A MISSÃO CONTINUA.

SÃO MATEUS! ROGAI POR NÓS!

HISTÓRIA DE DOM JOSÉ DALVIT

Nasceu em 15 de setembro de 1919 em Pressano (Itália). Fez sua profissão religiosa na Congregação dos Missionários Combonianos em 7 de outubro de 1937. Foi ordenado sacerdote em 10 de abril de 1943. Chegou ao Brasil em 1953. As paróquias de Serra e Fundão, no Espírito Santo, foram seu primeiro campo de trabalho. Em 1954 foi para a Paróquia de Nova Venécia. De 1955 a 1957 trabalhou na Paróquia de São Mateus. No mesmo ano, 1957, foi destinado à Paróquia de Montanha. A seguir, foi a São Paulo para trabalhar pouco mais de um ano na Paróquia de Caxingui. Foi eleito Bispo de São Mateus em 9 de maio de 1959 e Sagrado em Vitória-ES, em 29 de junho de 1959, aos 39 anos de idade.

Assumiu como 1º bispo de São Mateus dia 20 de setembro de 1959. Trabalhou arduamente e com grande zelo pastoral. De 1962 a 1965 participou em Roma do Concílio Vaticano II. Inspirado pelo Concílio escreveu a Carta sobre o Batismo, criou os 04 zonais para dinamizar a Pastoral Diocesana, criou várias paróquias e ordenou 02 padres. No dia 20 de junho de 1970 renunciou à Diocese por motivo de saúde. Depois de dois anos na Itália, para recuperação, voltou ao Brasil como Vigário Episcopal em Belo Horizonte-MG.

Aos 17 de janeiro de 1977 faleceu no Bispado, durante visita a São Mateus, onde está sepultado, na antiga Catedral. Um homem apaixonado por Jesus e pelo seu povo. Deus seja louvado pelo seu sim, pelo testemunho e pelo belíssimo trabalho prestado à Igreja de Cristo.

     DOM PAULO BOSI DAL’BÓ
BISPO DIOCESANO

Logo-Santuario