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13 de novembro de 2018

Homilia de Dom Paulo na ordenação presbiteral do Diácono Edson Delfino


10 de Novembro de 2018 – Paróquia São Cipriano – Jaguaré 

Reverendíssimos e amados Presbíteros. Religiosos e Religiosas, Seminaristas, vocacionados e vocacionadas, autoridades constituídas ou representadas, aos irmãos e irmãs de outras denominações religiosas e todo povo santo de Deus, minha saudação fraterna a todos. No Ano do Laicato, reforço a minha saudação a todos os leigos e leigas, que amam esta Igreja e se dedicam no anúncio do Evangelho. Aos queridos ouvintes da Rádio Kairós e demais meios de comunicação social, a minha saudação. Saúdo e agradeço ao Diácono EDSON pelo seu sim, aos pais e toda família por doar a Deus e a Igreja este filho.

Amado filho Edson, em sua Ordenação Diaconal você escolheu como tema “Eis o meu servo que eu sustento” (Is 42,1). Naquele dia de júbilo em nossa Diocese, eu já partilhava sobre a importância em abrir as portas do coração e se permitir compreender o que significa dizer sim ao Senhor e quais as implicações deste sim. Naquele momento, percebia-se claramente o clamor de um menino, que se colocava carinhosamente nos braços do Pai, como um filho que desejava ser cuidado e alimentado por Ele. Hoje, um pouco na mesma linha, você traz como tema: “AQUELE QUE VOS CHAMOU É FIEL, E É ELE QUE AGIRÁ” (Its 5,24). É uma verdadeira oração de intimidade e de confiança no Senhor. De um lado, traz em si toda a beleza e encanto, que deveria perpassar o nosso ministério, porém do outro lado, está à complexidade em como viver a profundidade da obediência e deixar de fato, que Deus haja em nós. Este é o grande desafio.

Para alguns pode ser loucura, para outros um caminho, para muitos uma cumplicidade entre aquele que chama e age e aquele que recebe o chamado e pela obediência se coloca a caminho como comunicador do Evangelho e defensor da vida. Em seu ministério você tem a oportunidade de viver a plenificação desta cumplicidade ou a nobre liberdade de fazer a sua escolha em agir por conta própria e sepultar a obediência.

Parece-me, que a obediência hoje encontra-se enferma, quase na UTI, não somente na relação com Deus, mas em nossas relações humanas. Estamos perdendo o espírito da obediência e do respeito a Deus, aos pais, avós, aos superiores no campo profissional e no mundo do trabalho, as autoridades religiosas ou civis, etc. Obediência e respeito são virtudes adormecidas, que precisam ser acordadas urgentemente. Não somente ao Senhor, mas na relação entre nós.

Na primeira leitura escolhida para sua ordenação, apresenta-nos a vocação e missão do servo de Deus (Is 49,1-6). O chamado a vocação acontece ainda no ventre materno, diz o texto: “Eu ainda estava no ventre materno, e o Senhor me chamou… desde o ventre me formou para ser o seu servo”. E Deus ainda diz: “faço de você uma luz para as nações, para que a minha salvação chegue até os confins da terra” (cf. Is 49,1-6). O termo servo por um lado, refere-se a quem não é livre ou foi privado de sua liberdade. Por outro lado, refere-se a quem expressa obediência, quem obedece ou serve alguém, podemos citar como exemplo o servo de Deus. No seu e no nosso caso pertencemos a segunda vertente. Somos chamados a nos tornarmos servos na obediência e no seguimento ao Senhor.

Na realidade o texto de Isaias 49,1-6 é o segundo “cântico do Servo de Deus” (cf. nota em Is 42,1-9). Aqui se descrevem as características da missão profética: desde o início, no ventre, o Servo recebe a missão de anunciar a palavra de Deus, para reunir e restaurar seu povo disperso. Mas a missão do Servo ultrapassa as fronteiras de uma nação, está além de um espaço geográfico, pois fará com que o povo da aliança se torne luz para os outros povos. Missão nobre do presbítero de hoje.

Na segunda leitura, tirada da primeira carta aos Tessalonicenses (I Ts 5,16-24), Paulo externa em seu discurso diversos conselhos para a construção e crescimento da comunidade: respeitar os que têm o encargo de dirigir, ajudar os irmãos, que estão em dificuldade, viver em clima de alegria e oração. Os vv. 19-21 convidam os cristãos a exercitar o discernimento e espírito crítico, para se tornarem capazes de reconhecer e assimilar o bem, onde quer que este se encontre. “Estejam sempre alegres, rezem sem cessar… Não extingam o Espírito, não desprezem as profecias. Examinem tudo e fiquem com o que é bom. Fiquem longe de toda espécie de mal… Quem chamou vocês é fiel e realizará tudo em vocês” (Cf. I Ts 5,16-24). O presbítero é convidado a ser homem de oração, da missão, da esperança e de ajuda ao outro.

No Evangelho de João 14,15-21, Jesus concretiza o que ouvimos na primeira e segunda leitura, reafirmando as virtudes do amor, da obediência e da presença de Deus em nós, através da ação do Espírito Santo. “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. Então eu pedirei ao Pai e ele dará a vocês outro advogado, para que permaneça com vocês para sempre. Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê, nem o conhece. Vocês o conhecem, porque ele mora com vocês, e estará com vocês. Eu não deixarei vocês órfãos, mas voltarei para vocês…. Quem me ama, será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14,15-21).

Querido Diácono Edson, quem segue Jesus não caminha para o fracasso, pois a meta é a vida. Jesus envia o Espírito Santo como advogado àqueles que creem e são obedientes. O Espírito é a memória de Jesus, que continua sempre viva e presente na vida dos escolhidos e na vida da comunidade. O Espírito Santo ajuda-os a manter e a interpretar a ação de Jesus em qualquer tempo e lugar. O Espírito também os leva a discernir os acontecimentos, para continuar o processo de libertação, distinguindo o que é vida e o que é a morte, realizando novos atos de Jesus na história.

Quem me ama, será amado por meu Pai (14,21) – O primeiro e o último versículo deste texto falam em amar a Jesus (14,15.21). Amar a Jesus é aderir incondicionalmente a ele, a seu mandamento de amor, a seu projeto de vida plena, vida em abundância (10,10). É permanecer em sua palavra, que conduz à verdade que liberta (8,31-32). Amar a Jesus é acolher e aderir a seu mandamento de amor (14,15), amar o próximo como Jesus nos amou, pois é na prática do amor, que se conhecerá quem é o seu discípulo (13,35). Viver o amor de Jesus é, mesmo na sua ausência física, continuar sendo animado por seu dinamismo. Ele é o nosso defensor ou consolador, agora presente na força do Espírito. É o Espírito Santo, quem realizará o projeto de Jesus em cada um de nós, a fim de trilharmos no caminho da verdade, que conduz à liberdade plena. O Espírito Santo ninguém vê, mas vemos sua ação no mundo através do testemunho daqueles que são obedientes ao Senhor, acolhem suas palavras e seguem seus mandamentos.

Queridos irmãos e irmãs em Cristo Jesus, para que este nosso irmão exerça bem sua função de presbítero servo, a Igreja apresenta alguns elementos fundamentais para o êxito do seu ministério:

É certo que todo o povo santo de Deus, se torna em Cristo um sacerdócio real. No entanto, nosso grande Sacerdote, Jesus Cristo, escolheu alguns discípulos, para desempenharem na Igreja, em seu nome, o ministério sacerdotal em favor da humanidade.

O Diácono EDSON DELFINO, após séria e prolongada reflexão, será ordenado para o sacerdócio na Ordem dos presbíteros, para servir a Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor.

Ao ser configurado com Cristo, sumo e eterno Sacerdote e associado ao sacerdócio dos Bispos, ele vai ser consagrado como verdadeiro sacerdote da Nova Aliança, para anunciar o Evangelho, apascentar o povo de Deus e celebrar o culto divino, principalmente no sacrifício do Senhor.

Amado filho, você que irá entrar na Ordem dos presbíteros, procure ser fiel no que lhe compete, o sagrado múnus de ensinar em nome de Cristo, nosso Mestre. Distribuí a todos a palavra de Deus, que você mesmo recebeu com alegria. Meditando na lei do Senhor, procure acreditar no que ler, ensinar o que acredita e viver o que ensina.

Seja o seu ensino alimento para o povo de Deus e o seu viver motivo de alegria para os fiéis de Cristo, para edificar pela palavra e pelo exemplo, a casa que é a Igreja de Deus. Exercerá também, em Cristo, o múnus de santificar. Pelo poder de suas mãos os fiéis receberão o Cristo presente na Eucaristia.

Tome consciência do que irá fazer. Terá a responsabilidade de fazer os homens e mulheres entrarem para o povo eleito do Senhor, através do sacramento do batismo; perdoar os pecados em nome de Cristo e da Igreja no sacramento da Penitência; aliviar os enfermos com o óleo santo.

Ao exercer com amor o ministério de Cristo, procure sempre, caríssimo filho, unido e atento ao Bispo, congregar os fiéis numa só família, num espírito de comunhão e unidade, a fim de poder conduzi-los a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Trazei sempre para dentro do seu coração o exemplo do Bom Pastor, que veio para servir e não para ser servido. Veio para buscar e salvar o que estava perdido.

O seu tema “AQUELE QUE VOS CHAMOU É FIEL, E É ELE QUE AGIRÁ” (Its 5,24), é um grande convite a buscar pela obediência tal serviço. Seja humilde, amável, paciente, acolhedor, dinâmico, criativo e comunicador. Além do seu carisma com a juventude e tantos outros dons e carismas, a comunicação parece-me se destacar em seu ministério. Aprenda a fazer bom uso dela. Será uma grande força pastoral para a nossa Diocese.

Com zelo e cuidado de pai quero lhe fazer um alerta meu querido e amado filho. Por você portar uma bonita imagem física, com certeza passará por diversas provas ou tentações. Por isso, seja firme, mantenha o foco vocacional em Jesus Cristo, a serenidade e o cuidado de Pastor para não entrar na dinâmica do mundo moderno que faz da academia, dos complementos alimentares e da imagem física a ditadura da beleza. Procure usar alguns recursos simplesmente para a saúde e o bem estar. Isso fará com que você esteja mais inteiro para a missão no seguimento a Jesus e no compromisso com a Igreja. Lembre-se de que você foi escolhido no meio do povo, para servir com amor e humildade a este mesmo povo.

O nosso ministério é dinâmico, germina e cresce em gotas de amor. Que seu ministério, amado filho EDSON, seja um Oasis ou um mar de fecundidade. Que as gotas de chuva que caem e fecundam o nosso solo, sejam o reflexo da variedade de sementes lançadas e dos frutos colhidos em seu ministério. Nossa Igreja particular de São Mateus, nestes dias chuvosos, encontra-se como este solo encharcado, feliz por acolher a boa semente e esperançosa pelo resultado de seus bons frutos. Como já havia dito na Ordenação Presbiteral do padre Patric, gostaria de repetir hoje em sua ordenação: se está chovendo é sinal que a semente irá vingar. Parabéns meu querido filho e amigo. Obrigado pelo seu sim. Deus lhe abençoe, lhe proteja e conceda-lhe um ministério feliz! Amém!

     DOM PAULO BOSI DAL’BÓ
BISPO DIOCESANO

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