São Mateus-ES, 31 de março de 2021
Em tempo de pandemia, pensei escrever algumas linhas sobre: “LUZ E ESPERANÇA UM NOVO OLHAR”, DE REPENTE, o palpitar das chamas no palco da vida encontra-se ainda ofuscado pelo mesmo itinerário de 2020, sufocado pelo misterioso COVID-19. Por que pensar ou escrever algo totalmente novo, se é possível dar continuidade?
De repente “embriagado” com o cenário atual, com a sensibilidade de pastor e de alguém que ama a arte, fazendo dos poemas e canções sonoros acordes, deixo-lhes esta mensagem pautada na realidade e na esperança de dias melhores, frente ao bailar dos sentimentos, que ressoam na alma e no coração de todos em tempo de pandemia:
“De repente, a roupa de marca, o perfume importado e as joias de pequeno ou grande valor não servem mais para nada, porque não têm onde exibi-las”.
“De repente, todo o dinheiro guardado não tem onde ser usado, porque não se pode viajar ou fazer compras nos shoppings ou no mercado”.
“De repente, um carro só é o suficiente, porque não se pode ir para lugar algum.
De repente, a casa de praia terá que ficar vazia, porque não se pode chamar os amigos, para um fim de semana juntos”.
De repente, aquele churrasco com a família teve que ser cancelado ou adiado e a carne congelada, porque não se pode fazer reunião familiar.
De repente, aquela linda casa que vivia cheia de parentes e amigos, ficará com poucas pessoas, porque não se pode receber visitas.
“De repente, os idosos terão que ficar sozinhos, sem o carinho dos filhos e netos, porque um simples abraço, pode custar a sua vida”.
“De repente, aquela sonhada festa teve que ser cancelada, porque as pessoas têm medo de estar juntas”.
De repente, a vontade de estar perto das pessoas queridas, se tornou um pesadelo ou um desejo proibido, porque amar agora, é ficar distante.
De repente entrar na igreja, participar de uma celebração tornou-se algo quase impossível, porque as portas estão fechadas ou semiabertas celebrando com um pequeno percentual, para salvar vidas e sonhar com a presença de 100% num futuro indefinido.
De repente, o mundo inteiro para, porque a pandemia do Novo Coronavírus ameaça a população e tira a paz e os sonhos de tantos.
De repente, a humanidade silencia, porque a vida nunca foi tão visitada e cuidada, como está sendo agora.
De repente, no primeiro momento os espaços esportivos fecham-se, sensação de derrotas ou final de campeonato, cenário nunca visto antes, porém atletas treinando sozinhos, para salvar toda a equipe.
De repente, no segundo momento ampliam-se as expectativas do retorno, atletas de vários clubes arriscando suas próprias vidas, disputando entre si um troféu simbólico, porém conscientes, que o troféu maior não estaria no estádio: a vida do seu público.
De repente, a ausência da escola tornou-se o grau acadêmico mais acentuado da inteligência, definindo a vida como a grade curricular número um. (O “alfa” e o “ômega”).
De repente, os profissionais da área da saúde, segurança, caminhoneiros, garis, entregadores delivery e outros, tornam-se os “anjos bons” do momento, ganhando visibilidade e notoriedade, outrora imperceptíveis.
De repente, as autoridades civis, religiosas e os notáveis da ciência, tornam-se “reféns” de perguntas e posicionamentos rápidos, porém a teia que entrelaça o mistério atual, rouba-lhes o dicionário e com ele as respostas.
De repente, boa parte da população chega a pensar que este vírus seria algo passageiro e que não causaria tantos danos. No escombro dos seus sentimentos, muitas pessoas afrouxaram o isolamento social para “curtir a vida”, colocando em riscos a sua própria vida e a vida do outro sem perceberem que a “curtição” desaguaria na destruição.
De repente, muitas pessoas começam a pensar que o misterioso vírus estaria sempre na família do outro, porém os ventos contrários roubam-lhes a suavidade no pensar e no agir e ressoam fortes, como os sinos que retinem ao se depararem com uma visita nada agradável em seu lar: o COVID-19. Tonteadas pelo despreparo se deram contas que nada mais se poderia fazer.
De repente, os otimistas chegam a pensar que poucas vidas seriam ceifadas, que logo, logo tudo voltaria ao normal, porém o cenário mundial apresenta neste momento mais de 2,82 milhões de mortos. Mais de 300 mil pessoas mortas somente no Brasil.
De repente há uma reviravolta no depósito das emoções. No conforto de sua segurança, pessoas que se diziam equilibradas, prudentes, controladas e tranquilas, encontram-se agora confusas, esgotadas, impacientes, com alteração de humor e impactadas, porque o Novo Coronavírus polvilhou uma gama de ingredientes, nunca usados anteriormente em sua receita interior e comportamental.
De repente, um número significativo de cidadãos chega a pensar que as autoridades políticas estabeleceriam um diálogo eficaz com a ciência e que as decisões políticas deveriam ser tomadas com base no conhecimento técnico e científico, caso contrário, milhares de vidas seriam sacrificadas, porém o cenário atual mostra diversos aproveitadores com interesses pessoais, contribuindo com o avanço da pandemia, triturando ou fatiando a ética e colocando a vida do povo em segundo lugar.
De repente, algo imperceptível tornou-se perceptível, o calvário que se arrasta a tanto tempo na vida das pessoas, nunca teve uma cruz com tantos sinais de vida e de esperança.
De repente por uma força misteriosa, os cristãos começam a valorizar mais a Igreja da casa (a Igreja doméstica).
De repente, as pessoas começam a acordar e perceber que é possível rezar mais, perdoar mais, acolher e cuidar mais.
De repente, muitos que estavam no templo desejam sair e muitos que estavam fora desejam entrar. Para muitos após esta pausa silenciosa, se cada um fizer a sua parte, a Igreja poderá voltar ainda mais acolhedora, dinâmica, criativa, ágil, fortalecida, fervorosa na fé e mais comprometida com a vida.
De repente começa-se a vislumbrar outros sinais de que a Igreja e a sociedade voltarão a “um outro normal”, que a cada dia, na dança dos acontecimentos faz-se necessário se redescobrir e se reinventar.
De repente na crise do afeto, germinou a semente da esperança e do reconhecimento, que o outro é importante para mim. Dificilmente, no ventre da história, a celebração da vida, o calor do abraço e do aconchego, a alegria de olhar nos olhos um do outro, o desejo de estar juntos, a saudade do sorriso, do cheiro e do afeto nunca foram tão importantes.
De repente, o canto da utopia: “dai pão a quem tem fome” nunca se tornou uma força tão evidente no coração humano, na abertura de tantas portas de armários, de dispensas, mãos e corações. O desemprego, a miséria, o grito silencioso pelo pão, dessa vez, vindo de irmãos e irmãs nunca visto antes, fez com que muita gente jogasse a chave fora e deixasse os cadeados abertos, acentuando o PILAR DA CARIDADE, como a âncora da ação pastoral de nossa Igreja. Confirmando o lema da sobrevivência: Onde se distribui pão se distribuem vida, afeto e conscientização.
De repente, a intercessão de Maria: “eles não têm mais vinho” (Jo 2,3) e o seu clamor: “fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5), despertou no coração de muitos cristãos o reconhecimento, que depois de Jesus, Maria é quem ocupa o lugar mais elevado e ao mesmo tempo mais próximo da humanidade. Que na obediência ao seu Filho Jesus, tem um olhar atento à realidade e de fato intercede pelo povo.
De repente em meio às dores e alegrias, enfermidades e perdas se contemplam diversos testemunhos, até de irmãos e irmãs de outras denominações religiosas o reconhecimento da importância materna e divina de Maria na história da salvação como colaboradora, Mãe agraciada e protetora, Senhora das dores e das alegrias, consoladora dos aflitos e intercessora do seu povo.
De repente, a devoção a Maria aumentou em todos os continentes. Mesmo na experiência da casa ou individualmente, acredita-se que jamais os fiéis tenham rezado tanto como agora, principalmente a oração do Santo Terço.
De repente, muitos cristãos começam a reconhecer que o pecado entra no mundo como fruto da liberdade do homem e da mulher e não por iniciativa de Deus. Que esta pandemia não é algo criado por Deus, que Ele nunca abandonou e nem abandona os seus filhos e filhas, mesmo nos momentos de dor. Ele simplesmente respeita a liberdade humana. Deus está do lado das vítimas e sofrendo com elas.
De repente, muitos filhos e filhas de Deus ao verem a quantidade de corpos de tantos irmãos e irmãs, espalhados mundo a fora e sepultados sem a presença dos seus, chegam à conclusão, de que a melhor alternativa é ficar em casa e cuidar da vida, neste momento.
De repente, as pessoas começam a amar mais a vida mesmo que a realidade seja dura para enfrentar.
De repente, muitos chegam à conclusão, de que o pânico e o desespero não são as melhores receitas.
De repente, muitos começam a pensar, que a serenidade, a prudência e os pés bem plantados no Evangelho e na profunda experiência com Deus, neste momento, poderão indicar caminhos mais precisos e seguros.
De repente, os cristãos começam a dar-se contas, que a pandemia do Novo Coronavírus fez com que muitos vivessem a quaresma de 2020 e 2021 diferentes de todas as outras.
De repente, muitos ao visitar a sua arte emotiva que sufoca a razão, no desespero, no sofrimento ou no silêncio do deserto interior, começam a dar-se contas que a conversão nem sempre vem por amor, mas muitas vezes pela dor.
De repente, a humanidade começa a pensar, que a Páscoa é de fato a passagem da morte para vida e reza, para que a ressurreição chegue logo.
De repente, o ser humano reconhece, que tudo o que se precisa neste momento, é acreditar mais no poder e na misericórdia de Deus e que a vida voltará a reinar e a morte será vencida.
De repente, a humanidade se dá conta e começa a acreditar, que a crise provocada pela pandemia do Novo Coronavírus, é apenas uma pausa silenciosa frente à “grande tela” da obra prima mais preciosa e mais bela, criada por Deus, que chamamos VIDA.
De repente, a luz da força interior adormecida até o momento, começa a acender e levar as pessoas a acreditarem, que quando tomarmos consciência desta força, como colaboradores do VERDADEIRO AUTOR e voltarmos à “grande tela” com as novas “cores e pincéis” a humanidade entoará alegremente a canção mais colorida, mais desejada, encantadora e de maior valor: A VIDA.
De repente procurando respeitar o máximo o isolamento social, no contato com os livros, com as plantas do jardim e da horta e acima de tudo no contato comigo mesmo, reafirmo a virtude mais bela e nobre que deve ancorar de forma crônica em meu coração de pai espiritual e pastor: O AMOR! Amor a Deus, a Jesus Cristo, a Igreja e a cada um de vocês.
De repente, amados filhos e filhas, alimentado por este amor faço-lhes um clamor: sejamos obedientes ao apelo de Deus que diz: “ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Deu 30,19).
De repente iluminado pelo mistério da ressurreição, a vida que vence a mote, esperançoso em dias melhores, desejo a você e sua família uma feliz e abençoada Páscoa. Deus abençoe a todos!