Homilia de Dom Aldo – 21 de setembro 2019.
(Mt 9, 9-13)
Missa das 07h na Antiga Catedral de São Mateus
Povo Santo de Deus!
Que alegria de nós nos encontrarmos neste templo que mudou para uma nova juventude, para um novo pedaço de história que ele, também o templo, deve construir aqui em São Mateus.
A minha primeira palavra seria uma pergunta, se o permitirem: É ainda possível hoje ser Cristão, Discípulo de Jesus Cristo no nosso mundo secularizado de hoje?
Esta é um pouco a pergunta que nos colocamos a nós mesmos. É claro que a presença de um povo tão numeroso significa que já há uma palavra que grita muito forte: Nós continuamos, somos discípulos de Jesus Cristo! Mas pertencemos a uma época em que não é fácil professar esta Fé e principalmente vivê-la, como nos ensina o Papa Francisco: “Não basta se gloriar do nome de Cristãos, é preciso ser cristãos”; e neste discípulo que pergunta nos inquieta: Nós somos realmente cristãos pela nossa vida? Ou só pelo nome?
Agora nós nascemos e vivemos dentro de um período de história que carregado com tanta dificuldade para aqueles que pretendem professar a sua fé. Esta tal modernidade, que nós carregamos nas costas, e dentro da qual […] de São Mateus […] também […]. O povo brasileiro foi se constituindo como nação especialmente preparada para esta época tão difícil na nossa história urbana.
É uma História marcada por vontade de nos tornar um mundo feliz, um mundo em que todo mundo, toda pessoa pudesse levantar a cabeça e se sentir filho ou filha de Deus. Entretanto o Papa denunciava, portador do nome é coisa boa, mas precisa a realidade.
E nesse sentido o Papa Leão XIII em 1891 de algum modo sacudiu o mundo, sacudiu os cristãos ao escrever aquela carta que em latim é chamada Rerum Novarum, “Coisas Novas” estão acontecendo, a Igreja estava um pouco como que adormecida. Até ao ponto que os Papas que seguiram Leão XIII foram cada um deles denunciando as consequências desta modernidade que prometeu a felicidade para todos, e trouxe ao mundo um período de história dos piores. Nunca morreram tanta gente por causa desta tal modernidade.
Mas os Papas que se seguiram a Leão XIII, nós pegamos apenas dois ou três para relembrar de que jeito eles perceberam a presença da modernidade.
– Pio XI dizia: “Perdemos os operários”. A modernidade afastou aqueles cristãos da Igreja.
– Pio XII foi mais adiante: “A nossa sociedade perdeu até o sentido do pecado”.
– Paulo VI chegou a dizer: “A fumaça do inferno, do diabo, tinha penetrado na Igreja, através de algum ‘buraquinho’ invisível; mas que a fumaça do inferno tinha entrado também na Igreja”.
De fato a partir desta época, denunciada em primeiro lugar por Leão XIII e assumida pelos Papas que lhe sucederam; estas realidades provocaram também uma imensa dificuldade entre a Igreja e os poderes políticos, até então mais ou menos convivendo em paz. Nasceu daí a ‘guerra’.
O Brasil nasceu dentro dessa realidade. O nosso governo e a própria Igreja carregou a dificuldade de dialogar com esse mundo profano que chegava com tanta força. Até o Vaticano II, quando finalmente a Igreja e a sociedade moderna, conseguiram reatar mais um pouco o diálogo, os convívios.
O Vaticano II, o Concílio Ecumênico foi um momento de grande iluminação para a história humana e que se traduziu para nós, os cristãos felizes da América Latina, neste sentido produziu aquelas belas coisas que nós chamamos de: Medellín, Puebla e Santo Domingo. Estamos em paz? A modernidade e a Igreja conseguiram ainda se entender? São muitas as perguntas que vão nascer.
O pior está acontecendo agora, neste momento mesmo da nossa história, quando a Igreja é questionada até em seu chefe, seu representante maior, que é o Papa. Ele é contestado, não só pelos adeptos da sociedade moderna, mas pelo próprio povo da Igreja. Há um crescente barulho contra o Papa com que nós queremos continuar fiéis para sermos fiéis a Jesus Cristo, conforme nossa pergunta inicial.
Estamos, então neste clima, estamos aqui para celebrar o nosso padroeiro São Mateus; que para nós deve ser como uma espécie de extraordinário tempo para recuperar, para ver para aonde vamos, e o que estamos carregando ainda de felicidade herdada dos tempos passados. Eu gostaria dizer que podemos sim manifestar nossas convicções; nós continuamos discípulos de Jesus Cristo. Ele está no meio da multidão que hoje se expressa de outro jeito, diferente do nosso; com certeza nós podemos continuar Discípulos de Jesus Cristo, mas com muita capacidade de sabermos traduzir para a cultura de hoje as nossas convicções. E apontamos de modo especial um sinal muito típico do nosso país, que é o Batismo.
O povo brasileiro continua a batizar e exigir o batismo, até o ponto que nós os padres da Diocese de São Mateus, que começamos a reforma da ‘Igreja Pós Conciliar’ com uma ênfase maior dada ao Batismo, e com algumas exigências fundamentais, nós nos sentimos até perturbados e porém ao mesmo tempo encorajados. Aconteceram coisas até de estranhar. São Mateus está aqui escutando as nossas reflexões. Ele nos acompanhou. Parece que chegou o momento em que alguém queria até carregá-lo embora porque os tempos faziam pressão naquela direção: eliminar os Santos, fechar as igrejas, dar outras finalidades às igrejas como está acontecendo em muitos lugares no mundo.
Nós podemos sim nos alegrar porque há tantas coisas que ainda nos ajudam a continuarmos filhos da Santa Igreja, mas também do jeito que os nossos Bispos sugeriram:
Passar de brasileiros batizados, para brasileiros Missionários Discípulos de Jesus Cristo. É a passagem difícil de fazer, mas que é a condição, é agora o momento, diria tão mais crítico: Para onde vai o desfecho deste momento que nos deixa até perplexos, quer dizer, duvidosos, não sabemos para onde bater palmas, para quem, de que jeito?
Manifestar que nós acreditamos no Evangelho que tem 2000 anos de subsistência e continua firme e forte; continua sim pedindo-nos que retiremos a poeira, as cores que o cristianismo recebeu ao longo de 2000 anos, mas salvando a nossa Fé que não está sendo descuidada ou transtornada. Em últimos e pequenos pronunciamentos dela, últimos e pequenos símbolos da nossa Fé. É claro que para podermos continuar assim há condições. As condições são estas:
1ª Condição: Que nós encontremos em nossas vidas pessoal, aquele encontro profundo com Jesus Cristo, com Deus, tão profundo que nos marque para sempre; se não tivermos este encontro lutaremos e continuaremos a ser brasileiros batizados, não Discípulos de Jesus Cristo, porém. Nós queremos sim, continuar como brasileiros batizados, mas também como Discípulos convertidos, que sabem no meio deste mundo, onde é difícil perceber a presença do cristianismo. Nós não sejamos tão barulhentos como já fomos na história, mas sejamos em compensação até mais fiéis ao Evangelho. Então a 1ª Condição nossa é esta: Invocar que cada um de nós a começar pelos padres, pelos seminaristas, pelas pessoas santas que estão nos seguindo nesta celebração Eucarística, que possamos ser esse momento feliz, como que uma sacudida, como que um raio de Luz especial que caiu sobre nós, como nos relata os Atos dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Então esta é a primeira condição. É graça que devemos implorar, é graça pela qual nós devemos lutar e acreditar que ela é necessária, nós continuaremos cristãos discípulos se fizermos esta bela experiência de Jesus com que nós estamos orando neste momento.
2ª Condição: Que perseveremos na formação, no aprofundamento da nossa Fé. Aprendemos a carregar a Bíblia; mas quantas reservas também nós carregamos!? De que jeito nós lemos a Bíblia? O que nós entendemos da Bíblia? Irmãos queridos é preciso o continuar na formação. É preciso que nós nos empenhemos que as nossas últimas palavras que lemos ao deitar na nossa cama de repouso, sejam páginas do Evangelho, e não revistas até mais ou menos apresentável. Mais para ser jogada no fogo do que para ser lida e meditada. Então crescer na formação.
Eu sei que a Diocese está oferecendo muitas oportunidades. Eu sei que nós, agora me refiro aos meus confrades Combonianos, nós fomos um pouco como aqueles que queimaram a floresta que estava por aqui. Fizemos uma queima de tantas coisas; agora precisamos plantar. A terra nos espera, a ‘terra povo’ hoje exige, pede que nós voltemos a recuperar tantas coisas.
3ª Condição: Que nós estejamos no mundo sem pertencer ao mundo. Nós vivemos no meio de um mundo perturbado, mas há cristãos; o Papa nos diz que tem já multidões de gente no mundo com a nossa perspectiva. Então, no meio do mundo, mas como portadores de alguma coisa que a nossa vida expressa, mais do que nossas palavras, a nossa vida expressa as nossas convicções profundas. E deve principalmente se expressar. Agora eu já sei alguns vão tapar os ouvidos para não me ouvir.
4ª Condição: Também na política, na vida social, na vida econômica; precisamos sim para que o Evangelho tenha sua eficácia ainda hoje e para que assim se expresse a santidade dos cristãos de outro jeito do passado. Mas também de outra maneira mais profunda. E para esse encontro de Jesus, para essa formação, nós precisamos especialmente sintonizar com Ele, assumir aqueles valores que foram um pouco esquecidos.
Rejeitar tantas injustiça; sentirmo-nos indignados com tanta violência, sentirmo-nos indignados por tantos sacrifícios impostos ao nosso povo; por tanta coisa que nos entristece que nos deixa até desconfiados: Será que realmente vai desaparecer do Brasil todos os sinais dos séculos de santidade de graça que foi dado a viver aos nossos avós e pais e que agora estão um pouco como que desaparecendo.
E também Uma Convicção é esta: nós cristãos Católicos não mudaremos o mundo não sozinhos. Não mudaremos; não temos capacidade, nem disposições, e diria nem vocação para isso; nós precisamos retomar diálogos com todos aqueles que também, embora têm abertamente ateus, abertamente indiferentes, abertamente agnósticos, quer dizer desconhecendo Deus, esta gente de boa vontade, que seja nossos aliados. Aí sim nós poderemos confiar que este sonho repetido até quase nos cansar do mundo mais justo, mais fraterno, mais humano, se torne realidade e não seja só slogans repetidos em todos os cantos da rua, mas com pouca eficácia real.
Precisamos pedir a São Mateus. Ele viveu, enfrentou as nossas dificuldades. Nós conhecemos um pouco a história dele. Mas o encontro dele com Cristo foi tão forte! Aquele SEGUE-ME de Cristo para ele que ele, se tornou outro. Ele sim é um construtor daquele mundo com que nós sonhamos até hoje. É o nosso padroeiro que invocamos felizes.
Ele está aí e acho que escuta um pouco e fala silenciosamente a cada um de nós: E você o que quer ser? Um brasileiro batizado? Ou um brasileiro discípulos de Jesus Cristo? Naturalmente também batizado. Nosso padroeiro hoje nos sacode, nos convida. Ele teve que enfrentar os fariseus, os publicanos. Ele teve que não escutar muito aquilo que diziam contra ele. E nós quisemos aprender dele essa lição: Ligar pouco com críticas, ligar pouco com as ironias que fazem contra nós, e dar ânimo e força ao Espírito de Deus que encontramos em nosso caminho.
Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!