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Homilia do bispo Dom Paulo durante a Missa em Sufrágio do Sumo Pontífice, o Papa Francisco

PÁSCOA DO PAPA FRANCISCO – (+ 21/04/2025)

“Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tendes fé em mim também”, disse Jesus (Jo 14,1).

Amados presbíteros, diácono, seminaristas e todo o povo santo de Deus, minha saudação fraterna.

Hoje, 21 de abril 2025, de um lado, é o dia em que o coração da Igreja se entristece, do outro, é a celebração jubilosa, a Páscoa da comunhão verdadeira e definitiva do Papa Francisco com o Senhor.

Jesus vem ao nosso encontro para tranquilizar os nossos corações e nos revelar os mistérios do Pai. Por diversas vezes, Jesus imprime confiança e esperança no coração dos seus discípulos, assegurando-lhes preparar um lugar para cada um.  “Tendes fé em Deus, tendes fé em mim também”.  Assim como fez com os seus discípulos, Ele apela, para que cada um de nós mantenhamos firmes a fé em Deus e Nele também, quando nos revela: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”! Assim, Ele nos confidencia a realidade do céu, de onde Ele veio e promete preparar um lugar para cada um de nós. A nossa morada no céu está sendo preparada pelo próprio Cristo Jesus.

Jesus nos dá uma dica importantíssima para chegarmos à morada eterna. Reconhecê-lo como caminho, verdade e vida. “Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Somente por meio Dele, chegaremos à morada eterna.

Queridos irmãos e irmãs, encontrar o caminho nesta vida, falar ou lidar com a morte, não é algo tão simples. Não há palavras para explicar a dor que sentimos, ao entregar nos braços do Pai, alguém que amamos.

Quando a perda deixa um vazio profundo no coração, quando a saudade aperta bem forte, sempre que a dor parece impossível de suportar, é o momento de buscar uma intimidade maior com o Senhor, é o momento de orar a Deus, de depositar Nele toda confiança e permitir que Ele cuide de nós, de nossa família e guie os nossos passos.

Deus não abandona e nem abandonará quem se despede com amor e saudade. A dor, a saudade e o vazio não desaparecerão de um momento para o outro, mas Deus dará a força necessária, para que os familiares, parentes e amigos administrem da melhor forma possível a ausência de quem amamos. Hoje, é o momento de nos prepararmos para a despedida de nosso irmão na fé, amigo e pai espiritual, o PAPA FRANCISCO, um homem sábio e guerreiro, amante da vida e amado por muitos. Uma vida regada de sabedoria, de entrega a Jesus e a esta Igreja, que tanto amou. Um homem que encontra nos escombros das guerras, ramalhetes de paz.

A vida é uma linha frágil, onde caminhamos, sem saber o que nos reserva o passo seguinte. Quem imaginaria que após tantas enfermidades, experiência do COVID 19 e tantas outras enfermidades, adversidades e complicações de saúde, o Papa que estava num processo bonito de recuperação, pudesse se despedir na manhã desta segunda feira, 21 de abril de 2025, na oitava da Páscoa?

Por mais que tentemos buscar explicações, não teremos respostas. Tentar buscar respostas neste momento, só aumentará o número de perguntas e consequentemente, a nossa dor.

Que as recordações que restaram na trajetória da vida do Papa Francisco, seja uma fonte inspiradora de coragem, para evitar que o desânimo tome conta do coração da humanidade em luto, neste momento. Que não falte à família, parentes, amigos e demais pessoas que conviveram com o Papa Francisco, eu diria: aos membros de toda a Igreja, que não falte a coragem necessária para erguermos a cabeça e continuarmos firmes, pois a vida continua. A saudade do Papa Francisco permanecerá para sempre, mas também ficará a memória dos bons momentos vividos em sua trajetória de fé. Neste dia 21 de abril de 2025, um grande líder religioso, um pastor com cheiro de ovelhas se despede desta terra, mas fica um grande legado, não somente às ovelhas, mas sim toda a Igreja de Cristo.

Nessa despedida e a partir dela nos resta a saudade. Dentre todos os sentimentos diários, a saudade é a maior das companheiras. Infeliz, é aquele ou aquela que não sente saudade.

Para quem ama, onde lança o olhar, vê a saudade. Saudade que invade e aperta o coração. Saudade espalhada pelos caminhos que percorremos, onde o cheiro, as imagens, o som, a memória sempre nos farão lembrar de quem nos despedimos com amor.

Quando sentimos saudades, conseguimos perceber como o outro está tão presente e próximo de nós. As memórias irrigam a esperança, ganham vida e mostram como nada as conseguem apagar. A história de quem se foi, marca a nossa alma e a nossa própria história, como a tatuagem que não pode se apagar da pele.

Quando nossos olhos não podem se cruzar com os olhos de quem amamos e já celebra a sua Páscoa com o Senhor, os olhos de Deus com suas lágrimas de amor, vem ao nosso encontro, cruzam e irrigam os nossos olhares, trazendo conforto e consolo.

O sentimento que temos por alguém é verdadeiro, quando sentimos saudades. Saudade é diferente de apenas sentir falta. Sentir falta e estar desabituado a ausência, são sentimentos que revelam estar simplesmente acostumado com o outro. A saudade é bem mais profunda, é um sentimento intenso, que surge do amor, da amizade, do carinho e da vida que se cruza nas relações interpessoais no decorrer da história.

Que bom seria se pudéssemos, hoje, trocar a saudade por quem amamos, que já fez a sua Páscoa, se despediu de nós? Que bom seria, neste momento, se pudéssemos trocar a saudade pelo Papa Francisco? O que nos conforta é saber: quem amamos de verdade, continua em nosso coração, em nossa vida, mesmo estando em outra vida, nos braços do Pai Maior.

Saudade é um pedacinho de emoção dentro da gente. É um pedacinho de quem amamos dentro da gente. Por isso, amados irmãos e irmãs em Cristo Jesus, não guardemos a tristeza em nossos corações. A tristeza causa dor e sofrimento. Guardemos unicamente a saudade. Apaguemos os erros e contemplemos os bons momentos vividos na fé. Momentos que o Papa Francisco viveu em sua arte de governar a Igreja de Cristo, em cada Celebração Eucarística, na realização dos sacramentos, na convivência, em seus textos escritos, em suas homilias e em tantos outros momentos regados de encanto, de sabedoria e de amor a Jesus Cristo e a sua Igreja.

PAPA FRANCISCO, uma biblioteca viva na arte do saber, um homem extremamente inteligente, atualizado, de uma sensibilidade apurada e uma humanidade encantadora, humanamente falando, a razão não consegue explicar. Um homem que mesmo em meio a guerras e conflitos exala a paz, perseguido ou odiado por alguns, porém amado por muitos.

Nos últimos dias a enfermidade do Papa Francisco chamou a atenção do mundo inteiro. Sua humildade, despojamento, sua figura frágil, silenciosa numa cadeira de rodas entrando na Basílica de São Pedro, após sair do hospital, nos remete à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Ao mesmo tempo, nos recorda também a última Ceia, quando Jesus depõe o manto e põe o avental, transformando a sua autoridade em serviço.

Com seu semblante abatido e com suas dificuldades físicas tão visíveis, o Santo Padre nos levou a refletir: de onde vem tanta força? Mesmo na fraqueza da enfermidade ele nos ensinou a pensar positivo e encarar a doença como oportunidade. Guardemos com encanto no coração e na mente a saudade, pois a partir de hoje, ela será a nossa eterna companhia.

Aproveito a oportunidade para agradecer a todos, que de uma forma direta ou indiretamente, estiveram presentes na vida do Papa Francisco com suas orações, durante o período de sua enfermidade e em tantos outros momentos. A distância física não foi um impedimento para estarmos próximos espiritualmente. Convido a todos, a continuarmos em oração pela alma do Papa Francisco e por toda a Igreja.

Deus seja louvado pelo sim do Papa Francisco, pelo serviço prestado à Igreja de Cristo e por sua presença marcante na história da humanidade. Que o papa Francisco, nosso Pai espiritual, nesta terra, descanse em paz, nos braços do Pai Maior, no jardim da eternidade.


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