A Igreja destaca o mês de outubro para intensificar as ações missionárias e dedica o terceiro domingo deste mês para rezar pelos missionários e missionárias clamando ao “Senhor da Colheita que envie trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9, 38). O tema do mês missionário de 2020 é: “A vida é missão”, pois levar a mensagem salvífica de Jesus no coração e proclamá-la por palavras e atos por onde fores é missão de todo cristão. O lema recorda a vocação do profeta Isaias: “Eis-me aqui, envia-me” (6,8), e convida os batizados a assumirem sua vocação cristã. Retornar a ‘casa do Pai’ após o longo período de distanciamento social, por conta da pandemia da Covid 19, interpela os fiéis a responderem o questionamento vocacional que o Senhor faz: “Quem enviarei?” (Is 6,8).
O Dia Mundial das Missões foi instituído em 1926 pelo papa Pio XI (1922-1939), um apaixonado pela missão, por sugestão dos seminaristas da Arquidiocese de Sassari região da Sardenha – Itália – que apresentaram a proposta de se celebrar um dia dedicado às atividades missionárias na Igreja ao secretário da Sagrada Congregação de Propaganda Fide (hoje, a Congregação para a Evangelização dos Povos), Monsenhor Luigi Drago. E pediram-lhe que tratasse a questão com o Papa. Ao receber a proposta o papa Pio XI disse que esta era uma inspiração vinda do céu. No dia 14 de abril do mesmo ano, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos informava a aprovação do dia mundial para as missões a ser celebrado anualmente no terceiro domingo de outubro.
Em 1963, o papa Paulo VI tomou iniciativa de enviar por escrito e a viva voz uma Mensagem Pontifícia a fim de promover a participação e a colaboração ativa dos fiéis nas atividades missionárias.
Em mensagem para o dia das missões de 1965, o Papa Paulo VI agradeceu o empenho dos missionários, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos dizendo-lhes que “respondendo a um sublime chamado, deixando família, casa, pátria, tornastes-vos anunciadores da paternidade de Deus, da divindade de Cristo, do mistério da Salvação que se dá na Igreja” (Pontifícias Obras Missionárias, 2008, p. 16). O papa são João Paulo II, em 1981, lembrava que “ver multiplicar-se no mundo pequenas comunidades cristãs, dinâmicas e abertas, que compreendam a própria responsabilidade no anúncio do evangelho” (2008, p. 95), aumenta a esperança e confiança na luta por um mundo melhor. No ano de 2008, o papa emérito Bento XVI, fazendo referência ao apóstolo Paulo, salientava que a “atividade missionária é uma resposta ao amor com que Deus nos ama”. E acrescentou que o “seu amor redime-nos e estimula-nos para a missão ‘ad gentes’; […] e, é energia espiritual capaz de fazer crescer na família humana a harmonia, a justiça e a comunhão entre as pessoas, raças e povos” (2008, p. 222).
A mensagem do Papa Francisco para o dia das missões de 2020 aponta o chamado vocacional do Profeta Isaias: “Eis-me aqui envia-me” (6, 8). E nos convida a responder decididamente à interpelação do Pai: “Quem enviarei?” (Is 6,8). Neste contexto de pandemia esta pergunta atravessa não somente a Igreja, mas toda a humanidade, de modo que cada cristão deve sentir-se tocado por este apelo divino. Muitos filhos de Deus quando confrontam seu estilo de vida e suas escolhas, com a vocação própria do cristão, o amor, percebem que nem sempre suas escolhas vão ao encontro da vontade de Deus para sua criatura. Quando esta resposta não tem profundidade no coração, Jesus convida ao amor gratuito, na doação total a Deus e ao outro.
O ofício da “Igreja em saída” missionária presente na Exortação Evangelii Gaudium encontra seu impulso primário na pessoa de Jesus Cristo que inspirado pelo Espírito chama a sua Igreja a deslocar-se na direção dos mais fragilizados e carentes de cuidados e proteção. A missão e vocação dos batizados é tornar visível a dinâmica do Reino no meio dos homens e isto não é possível sem a promoção da vida humana. Por isso o tema da campanha do mês missionário afirma que “a vida é missão”.
Para o Papa Francisco compreender a mensagem que Deus está manifestando neste momento histórico é um enorme desafio, pois, as condições de sofrimento, doença, medo, desemprego e abandono em que muitos irmãos e irmãos se encontram nos questionam. Contudo, salienta que o isolamento levou muitos homens e mulheres a compreenderem que são necessitados da vivência comunitária e da presença de Deus em suas vidas. Quem dos irmãos que fazendo a experiência do isolamento não se angustiou com o imobilismo e não desejou participar do banquete eucarístico e do convívio comunitário?
Durante o período de distanciamento social a Igreja, visando o cuidado e acatando os decretos governamentais, orientou os fiéis a fazerem a experiência das comunidades domésticas, comum aos primeiros cristãos; promoveram missas, momentos de oração e formações transmitidas por meio do rádio, televisão, redes sociais e outras plataformas de mídias digitais; manteve as capelas do santíssimo abertas para visitas; promoveu ações solidárias em favor das famílias carentes. Isto significava dizer que enquanto estava com as portas fechadas para as celebrações presenciais a Igreja se esforçava para levar uma mensagem de conforto e de esperança aos fiéis.
Este período provocou o sentimento de solidariedade nos corações e levou muitos cristãos e não cristãos a superarem as diferenças e se unirem no compromisso mútuo a favor da vida e das necessidades básicas dos povos e nações carentes no mundo. As propostas para o mês das missões e a própria vocação missionária dos batizados convidam ao exercício da caridade.
O retorno do Povo de Deus às cerimônias litúrgicas nas comunidades geram expectativas, pois há tempo os fiéis aguardavam o retorno ao convívio nas Comunidades Eclesiais de Base. Porém, maior é a responsabilidade da Igreja quanto ao cumprimento das normas sanitárias recomendadas pelos órgãos competentes a fim de que os fiéis possam celebrar a fé no Ressuscitado sem riscos para sua saúde.
A reabertura das igrejas alegrou o povo de Deus, pois possibilitou-lhe participar presencialmente da celebração da Palavra e da Eucaristia. Contudo, o Arcebispo de Palmas (TO), Dom Pedro Brito Guimarães manifesta sua preocupação com o abandono da Eucaristia. Em seu artigo “a desafeição da eucaristia em tempo de pandemia, real ou fictícia?”, afirma: “Durante o tempo em que estávamos em restrições, recebi muitas mensagens de pessoas ávidas pela Eucaristia. Quando as restrições foram redimensionadas, os fiéis não apareceram nas igrejas, como era de se esperar”.
Neste sentido Dom Pedro Guimarães se pergunta sobre os prejuízos para a fé dos fiéis, caso os crentes se acostumem com as missas virtuais e deixem de participar de forma ativa nas celebrações litúrgicas. A este respeito o Concílio Vaticano II nos diz que “a liturgia renova e aprofunda a aliança do Senhor com os homens, na Eucaristia, fazendo-os arder no amor de Cristo” (Sacrosanctum Concilium, nº 10). Daí compreende-se que a presença real nas celebrações litúrgicas não pode ser substituída pela ‘presença virtual’, sem grandes prejuízos para a vivência da fé em Jesus Cristo.
Com o redimensionamento das restrições, e sem deixar de observar os cuidados necessários, cada filho amado do Pai é chamado a viver a fé em comunidade e realizar a missão de batizado participando ativamente da vida comunitária a fim de encorajar os irmãos no cuidado com o outro e com a criação, pois “a vida é missão”. A resposta que Deus espera ouvir neste interim é aquela dada por Isaías: “Envia-me” (6, 8). Responder sim ao chamado do Pai é um gesto de amor gratuito para com a causa de Jesus e a vida do próximo, sobretudo daqueles que padecem na carne e no espírito as consequências desta pandemia.
Para viver a missão, neste mês missionário, observando a dinâmica do amor pode-se tomar o bom exemplo de são Francisco de Assis: a oração, o cuidado e a partilha. São Francisco era assíduo na oração tanto na vida comunitária quanto na intimidade com Deus e assim superava as provações físicas e espirituais. Homem zeloso e integrado à natureza respeitava e cuidava da vida, fosse animal ou vegetal, como que a um irmão. Neste contexto de pandemia outra situação que preocupa a Igreja no Brasil são as queimadas que vem acinzentando os ecossistemas nacionais e causando danos irreparáveis a biodiversidade em escala mundial.
A partilha é outro marco da vida do pobre de Assis. Despindo-se de seus bens optou por viver da generosidade das pessoas. Seguindo seu exemplo muitos irmãos deixam casa, trabalho, pátria e se colocam no seguimento de Jesus e contam com a partilha dos irmãos para levar a cabo a missão confiada à Igreja por Jesus.
Por fim, cabe exortar os irmãos a percorrerem o caminho do discipulado fiel a Jesus Cristo, assumindo a missão de batizados no Amor. O mês missionário oportuniza aos fiéis exercerem o amor gratuito, por meio da oração pelas vocações missionárias ad gentes; da doação material a favor das obras missionárias; e, da opção pelo seguimento radical a Jesus, o Bom Pastor. Nesta perspectiva a Igreja por meio de seus pastores está empenhada em proporcionar uma fraterna acolhida aos seus fiéis a fim de que ao se aproximarem da “fonte da vida” (Jo 4, 14) sintam a presença afetiva do Senhor no templo. Que Nossa Senhora Aparecida interceda por seus filhos e filhas e ajude-nos a caminhar ao encontro do Pai, assumindo a nossa vocação missionária na vivência comunitária da eucaristia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIBLIA. Bíblia Sagrada. Tradução Oficial CNBB. 1. ed. São Paulo: Edições CNBB, 2018.
CONCÍLIO VATICANO II. Vaticano II: Mensagens Discursos Documentos. Sacrosanctum Conctilium. São Paulo: Paulinas, 2007.
GUIMARÃES, Brito Pedro, Bispo. A desafeição da eucaristia em tempos de pandemia, real ou fictícia? Disponível em: <https://www.cnbb.org.br/a-desafeicao-da-eucaristia-em-tempo-de-pandemia-real-ou-ficticia/>. Acesso em: 28/09/2020.
PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS. Campanha Missionária 2020. Disponível em: <http://www.pom.org.br/campanha-missionaria-2020/>. Acesso em: 28/09/2020.
PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS. Mensagens Pontifícias: Dia mundial das Missões. Brasília: Impacto, 2008.