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Sacramento da Ordem: ser “outro Cristo” para amar

A missão de Jesus, desde sempre, foi uma missão vocacional. Ele veio para chamar a humanidade a uma nova vida, à vida dos redimidos. Desde o início da pregação do Evangelho, chamou àqueles que quis para que o seguissem. Por isso, a missão da Igreja é chamar a humanidade para que faça parte desta vida.

            Apesar da grande multidão que O seguia, Nosso Senhor Jesus quis iniciar a nova comunidade do Povo de Deus, por meio de um grupo pequeno, os Doze, sobre os quais, com Ele como pedra principal, se edificaria a sua Igreja. Estes Doze estiveram mais perto de Jesus, acompanhando toda a sua missão, para que, após o Senhor levar a termo a salvação, fossem enviados a anunciar esta boa notícia e constituir a comunidade dos fiéis: “Farei de vós, pescadores de gente” (Mt 4,19). Esta é a missão apostólica que, em Mateus, se apresenta a nós pelo envio missionário:

Jesus se aproximou e disse aos Onze: “TODA A AUTORIDADE me foi dada no céu e sobre a terra. VÃO, portanto, e façam com que todas as nações se tornem discípulas, BATIZANDO-AS em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ENSINANDO-AS a observar tudo o que lhes ordenei. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”. (Mt 28,18-20)

            A autoridade de Jesus é transmitida aos apóstolos através da ordem missionária: Vão! Eles devem ir, para constituir a Igreja através da porta sacramental do Batismo, da vivência Eucarística e do ensino da Palavra. Através destes que foram constituídos pastores, Jesus permanece presente em sua igreja, cumprindo a promessa que encerra o Evangelho de Mateus: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”.O ministro ordenado, no serviço eclesial, é o próprio Cristo presente na Igreja como Cabeça de seu Corpo, por isso, diz-se que age in persona Christi (Na Pessoa de Cristo).

            Na linha sucessória dos Apóstolos de Cristo, estão hoje os Bispos da igreja. Aqueles que detém a plenitude do Sacramento da Ordem. Jesus, com o envio do Espírito Santo e o mandato missionário, institui estes como Pastores e Guias do Seu Povo. Com eles está a chave que, no Evangelho de Mateus, foi dada especialmente a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja. E as portas do inferno não dominarão sobre ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: o que tu ligares na terra, será ligado nos Céus; e o que tu desligares na terra, será desligado nos Céus” (Mt 16,18s). Este poder das chaves dado aos Apóstolos, que tem a Pedro por chefe e primaz, continua presente na Igreja naqueles que detém a marca indelével do sacramento da Ordem.O poder de ligar e religar à comunidade. De fazer cumprir o verdadeiro sentido da religião: religar o povo com Deus. Este poder das chaves se realiza nos sacramentos, especialmente o Batismo e a Reconciliação, confiado aos Apóstolos, e, por consequência, àqueles que são seus sucessores, os Bispos.

            Enviados à missão de anunciar o Evangelho e ligar as pessoas à Igreja, pelo Sacramento do Batismo, os Apóstolos alargam a comunidade dos discípulos de Cristo. O aumento do número dos que creem geram, no entanto, o problema que surge nos Atos dos Apóstolos e que leva a instituição de colaboradores da missão apostólica. E, deste modo, o único sacramento da Ordem, passa a comportar outros graus. O segundo grau a surgir é o grau dos diáconos. E este grau, revela para nós um outro dado que identifica os que se consagram por meio deste sacramento: além da pregação da Palavra, o serviço aos pobres.

“Então os Doze Apóstolos reuniram a multidão dos discípulos e disseram: ‘Não está certo que nós deixemos a pregação da Palavra de Deus para servir às mesas”
(At 6,2).

            O sacramento da Ordem é, junto com o Matrimônio, um sacramento do serviço. Pela Iniciação Cristã – Batismo, Eucaristia e Crisma – somos inseridos na comunidade dos discípulos de Cristo, recebemos verdadeira consagração, por meio da qual somos vocacionados à santidade e à missão de evangelizar o mundo, e deles também recebemos o necessário auxílio, isto é, graças necessárias para vivermos a vida segundo o Espírito rumo à Pátria definitiva. Os sacramentos da Iniciação nos inserem na salvação, eles são os sacramentos fundamentais e mais importantes. Os sacramentos do serviço se direcionam à salvação dos outros. “Se contribuem também para a salvação pessoal, isso acontece por meio do serviço aos outros”. Eles “conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do povo de Deus” (CIgC 1534).

“Irmãos, é melhor que escolhais entre vós sete homens de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos dessa tarefa” (At 6,3).

            O ministro ordenado é um eleito. O homem recebe o chamado, se prepara, se forma, mas é a Igreja quem o escolhe para este serviço. A ordenação não é um direito do fiel que estudou filosofia e teologia. A ordenação é um dom de Deus, um dom que Ele confiou a Igreja, de modo especial, aos Apóstolos e seus sucessores, para que dispensassem com sabedoria. Em cada ordenação, o Bispo proclama: “Com o auxílio de Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador, escolhemos este nosso irmão para a ordem do Diaconato/ Presbiterado”. E é o Bispo quem proclama estas palavras, pois é ele quem encarrega o eleito para uma tarefa que pertence, em primeiro lugar, ao seu ministério. Em seguida, os escolhidos “foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles” (At 6,6). Ainda hoje, o gesto da imposição das mãos é conservado pela Igreja como sinal da efusão onipotente do Espírito Santo em suas epicleses sacramentais (CIgC 699). “A imposição das mãos do Bispo, com a oração consecratória, constitui o sinal visível desta consagração” (CIgC 1538).

Assim, presbítero e diácono são os colaboradores diretos do bispo. Eles recebem uma missão que, em primeiro lugar, pertence ao Bispo. Esta escolha e dedicação se parecem com o episódio de Moisés quando escolheu os setenta colaboradores que partilharam seu “espírito” (Nm 11). O presbítero como um sacerdote e o diácono na dimensão do serviço formam os dois braços do ministério episcopal – serviço e sacerdócio. O ordenado faz as vezes do Cristo servo e sacerdote. O Sacerdote, por excelência é Cristo. Contudo, por seu serviço eclesial (por isso ministro, ministério, serviço), o ministro é assimilado ao Sumo Sacerdote pela consagração sacerdotal, por este motivo, ele goza do poder sagrado de agir pela força do próprio Cristo que ele representa. Assim, quando age, principalmente na liturgia sacramental, o ministro empresta-se a Cristo, e é Cristo quem realiza cada ato: Assim, quando o ministro batiza, é o Cristo quem batiza. Por isso, legitimamente ele pode dizer: “EU TE BATIZO…”. Quando perdoa os pecados, é o próprio Cristo quem perdoa, por isso pode dizer: “EU TE ABSOLVO DE TODOS OS TEUS PECADOS”. Quando consagra a Eucaristia, o ministro pode dizer: “ISTO É O MEU CORPO”, pois em cada liturgia, é o próprio Cristo quem age através daquele que Ele escolheu para ser seu ministro.

O ministro ordenado possui uma responsabilidade de maior amplitude: a urgência da propagação do Reino de Deus. Somente este santo propósito torna louvável a renúncia ao Matrimônio, como se ouve no Evangelho. Estes são os que “se fizeram incapazes disso por causa do Reino dos Céus. Quem puder entender, entenda” (Mt 19,12).

O próprio Senhor Jesus abraçou o celibato como forma de viver a sua missão, contudo, Ele não exigiu tal disciplina dos seus Apóstolos pois, como atestam os Evangelhos, alguns deles eram casados. Todavia, ainda no Evangelho, transparece que o seguimento a Cristo é escolhido em detrimento da vida conjugal. Na sequência deste capítulo, Pedro afirma a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos” (Mt 19,27). A Igreja, com o desenrolar da sua missão e sob a luz do Espírito, vai descobrindo no celibato, na castidade e na virgindade consagrada, uma legítima forma de viver o amor e um sinal de exclusiva consagração a Deus. Paulo dá importantes bases a essa disciplina:

“Aos solteiros e às viúvas digo que lhes é bom se permanecessem como eu. Mas se não conseguem dominar-se, que se casem, pois é melhor casar-se do que ficar ardendo de desejo”. (1Cor 7,8-9).

E ainda:

“Eu gostaria que vocês estivessem livres de preocupações: Quem está solteiro se preocupa com as coisas do Senhor e como agradar ao Senhor. Quem está casado se preocupa com as coisas do mundo e como agradar à esposa, e fica dividido” (1Cor 7, 32-34).

            Ambos os modos de vida são dons divinos, e cada um traz a sua missão específica. Os que se dedicam ao celibato cuidam das coisas do Senhor, e os que se casam cuidam da família e das coisas do mundo, tendo como horizonte e fim último o crescimento do Reino de Deus.

            O celibato abraçado em favor do Reino é uma legítima e bela forma de se viver o amor. É um dom que foge à compreensão humana, por esse motivo, o Senhor acrescenta: “Nem todos são capazes de entender isso, a não ser aqueles a quem é concedido” (Mt 19,11) ou ainda: “Quem puder entender, entenda” (Mt 19,12). Ainda hoje, muitos não compreendem o mistério do celibato e procuram casar os padres. É certo que a Igreja não impõe nada. O celibato é sempre uma escolha livre, alegre e gratuita, daqueles que desejam assumir a vocação ao ministério ordenado.

Todavia, não podemos nada sem o auxílio da graça de Deus. Ele jamais a recusa ao que a deseja, segundo àquelas Suas palavras: “Pedi e vos será dado” (Mt 7,7). O celibato é um dom, e como tal, deve ser constantemente pedido.

            Encerrando esta reflexão e percebamos os desafios que comportam a vida no ministério ordenado. A presença de Cristo no ministro, não o torna imune das fraquezas humanas, dos erros e dos pecados. Por isso, exortamos a toda a comunidade: REZEM PELOS SEUS MINISTROS, para que, auxiliados pelo Senhor, possam cumprir sua missão e alcançar a própria salvação, no serviço que prestam pela salvação de todos!

Pe. Dener Evangelista Barbosa de Sales
Coordenador do Serviço de Animação Vocacional (SAV)e Vigário da Paróquia São José Operário -Ecoporanga

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