A DIMENSÃO DO CUIDADO NA VIDA HUMANA

Por: Enilson Souza Silva Júnior

Acadêmico do terceiro período de filosofia – UNISALES

O cuidado é condição fundamental na humanidade, estando presente em todos os momentos da vida. O velho ditado que diz “quem cuida, ama” mostra-nos muito bem a dimensão do cuidado: o amor. Diferente dos outros animais, ao nascer o ser humano é totalmente dependente do cuidado, caso contrário ele morre. O homem precisa e carece de cuidado e ao mesmo tempo é dotado de capacidade para cuidar: Estamos dando e recebendo cuidados necessários para a preservação da vida?

O cenário causado pela pandemia do novo coronavírus tornou mais evidente que o ser humano é um ser de relação, isto é, um ser no mundo com o outro na dimensão do cuidado. Num cenário pandêmico prestar ou não o cuidado faz uma grande diferença. Quando não há o cuidado, o que vemos são hospitais lotados, uma crescente no número de mortos e famílias sofrendo a amargura do luto. Vemos que o vírus não se importa com a cor, com a classe social ou o cargo que ocupa na sociedade; ele simplesmente age e ceifa vidas. Mas por outro lado quando há o cuidado vemos pessoas que não medem esforços para cuidar dos que necessitam nas mais adversas circunstâncias, preservando a vida.

Apesar de termos a consciência de que o cuidado é necessário nem sempre ele é opção da sociedade. Com a ascensão da modernidade, evidenciou-se um mundo tão polarizado, cético e individualista, marcado por conflitos e divisões, sendo quase uma anti-realidade, que não valoriza a vida e socorre os necessitados. Será possível cultivar a esperança e cuidado frente a este cenário individualista?

Sobre essa anti-realidade, no livro Saber cuidar o filósofo e teólogo Leonardo Boff afirma:

Essa anti-realidade afeta a vida humana naquilo que ela possui de mais fundamental: o cuidado e a compaixão. Mitos antigos e pensadores contemporâneos dos mais profundos nos ensinam que a essência humana não se encontra tanto na inteligência, na liberdade ou na criatividade, mas basicamente no cuidado. O cuidado é, na verdade, o suporte real da criatividade, da liberdade e da inteligência. No cuidado se encontra o ethos fundamental do humano. Quer dizer, no cuidado identificamos os princípios, os valores e as atitudes que fazem da vida um bem-viver e das ações um reto agir. (1999, pág. 01)

O ser humano é um ser de relação e o cuidado é fundamental para essa vida em harmonia. Um cuidado à família, às crianças, aos jovens, aos idosos, aos moribundos, excluídos e à natureza que temos ao nosso redor. O cuidado serve de crítica à nossa civilização agonizante e também de princípio inspirador de um novo paradigma de convivialidade.

A pandemia do Covid-19 despertou em nós, a consciência de sermos uma comunidade mundial, que viaja no mesmo barco, em que o mal prejudica a todos.

O Papa Francisco na carta Encíclica Fratelli tutti, diz que “ninguém se salva sozinho e que só é possível salvar-nos juntos”. Por isso, “a tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa descoberto as falsas e supérfluas seguranças que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades” (FT n° 32).  A tempestade também serve para mostrar que não podemos viver somente no “eu” preocupando-se somente com a própria imagem. Temos uma pertença comum, à qual não podemos nos subtrair: a pertença como irmãos.

O Cuidado se efetiva por meio da solidariedade, responsabilidade, diálogo e compaixão por aquele que sofre. A falta de cuidado por sua vez nos leva a solidão, ao sofrimento e até mesmo a perder a fé: perder a fé na capacidade de regeneração do ser humano e de projeção de um futuro melhor. Depois da vida há coisa pior que perder o brilho da vida?

Se existem pessoas que não se preocupam em cuidar, existem aqueles que valorizam e se dedicam a missão de cuidar. Exemplo lindo de cuidado que podemos ver nos tempos atuais, são os esforços e o amor dos profissionais da saúde, manifestado no cuidado com aquele que sofre. Muitos destes irmãos saem de casa e deixam suas famílias e filhos para cuidar da família e filhos de outros. Eles não sabem o que vão enfrentar e quem vão encontrar, mas cultivam em seus corações o amor e a esperança da salvar vidas.

A esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna, caminhemos na esperança. (FT, n 51).

O cuidado deve ser uma ação desapegada de interesses ou ambições pessoais. Na parábola, o bom samaritano que “Viu, sentiu compaixão e cuidou” (Lc 10, 33-34) provoca-nos a ser presença amorosa de serviço e cuidado na vida de tantos irmãos irmãs que sofrem abandonados à beira do caminho, uma vez que “ver compadecer-se e cuidar” são compromissos indispensáveis ao humano, e devem ser cumpridos com entusiasmo. Mesmo com vários sinais de falta de cuidado que toca a nossa realidade, são muitos os exemplos de pessoas que se importam e agem em prol do cuidado para com o próximo valorizando a vida.

Que o bom samaritano, que vê, tem compaixão e cuida, nos inspire a cuidar uns dos outros no amor.

REFERÊNCIAS

FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social. Tradução oficial Paulus 1° edição, 2020.

BOFF, Leonardo. Livro saber cuidar, ética do humano – compaixão pela terra. Editora Vozes 10° edição.

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