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“SÓ A JUSTIÇA GERA PAZ!”

Por: Dener Evangelista Barbosa de Sales
Seminarista

“Eu vos deixo a paz; eu vos dou minha paz. Não a dou como o mundo dá. Que vosso coração não se perturbe nem tenha medo.” Jo 14,27

Como temos vivido nestes últimos dias, a falta de segurança pública gerou em nosso Estado do Espírito Santo um caos terrível: A população ficou refém do medo, centenas de vida foram ceifadas, assaltos, saques e muitos prejuízos. O clamor que brota desse momento não é outro senão o de PAZ.

Mas que paz é essa que tanto sonhamos e estamos buscando? É verdadeiramente paz, ou apenas normalidade da ordem?

Infelizmente a falta de policiamento nas ruas desvelou uma triste realidade: não há paz! Nós não estamos preparados para viver sem um vigia. As pessoas agiram como crianças a espera da saída dos pais para poderem descumprir as ordens por eles estabelecidas. É triste, mas não havia paz em nosso Estado, e nem haverá com o retorno do policiamento e das forças militares. O que há na verdade é uma normalidade da ordem gerada pela força das armas.

Não quero aqui desmerecer as forças militares. Na verdade, reafirmo a sua necessidade. Nós precisamos da segurança que eles nos garantem. Eles, na verdade, nos protegem de nós mesmos. Sob a coação das armas, mantemos boa parte da nossa maldade presa dentro de nós.

Nestes tempos conturbados, é momento de voltarmo-nos para Deus e buscarmos n’Ele a esperança. Jesus nos diz: “Eu vos deixo a paz! Eu vos dou a minha paz” (Mc 14,27). A paz que vem de Deus não é como a paz do mundo, e bendito seja Deus, por isso.

A paz que o mundo pode nos dar é simplesmente a normalidade da ordem, simplesmente a ausência de guerra – todavia também são aspectos importantes – mas essa é apenas uma paz de fachada, uma paz silenciosa, conformista e que, tristemente, muitos de nós cristãos aceitamos como a verdadeira paz. Sobre isso, se expressa bem a música “Minha Alma” da banda O Rappa: “Pois paz sem voz não é paz, é medo!”. A paz coagida pelas armas, não é paz! E que triste ver cristãos defendendo o armamento civil, quando o próprio Jesus, no momento da sua prisão, grita a Pedro: “Guarda tua espada na bainha” (Jo 18,11).

“A paz é fruto da justiça” (Is 32,17). Esta é verdadeira paz, a paz que vem de Deus, que não é a paz fruto do silêncio dos empobrecidos e injustiçados, mas a paz fruto da justiça social, fruto do alimento e salário digno para todos (inclusive para os PM’s que fazem a nossa segurança), fruto do acesso à saúde e educação de qualidade, fruto da distribuição equitativa de renda e do acesso a terra. Essa é a paz que atinge todos os cantos da cidade e do campo. Não é a paz encerrada apenas sob a cerca elétrica dos condomínios, mas uma paz que consegue atingir todas as ruas da periferia, tanto literal quanto às periferias existenciais. Esta é a paz que vem de uma consciência tranquila, de um coração que repousa em Deus e encontra n’Ele a inspiração para todos os seus atos.

A paz não virá até nós se ficarmos apenas fechados em nossas casas e Igrejas rezando e pedindo a Deus a solução para os nossos problemas como num passe de mágica. Claro que o que está acontecendo em nosso Estado foge do nosso controle e só nos resta rezar pedindo uma solução. Mas é momento de me questionar: no dia a dia de minha vida, o que eu faço pela paz? Eu busco a justiça? Eu sou honesto no que faço? Ou eu sou mais um instrumento de discórdia no mundo?

“Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Ser cristão é ser promotor de paz. Promover, não apenas esperar. Somos chamados a trabalhar incansavelmente pela paz, pois esta não se alcança de braços cruzados.

Que Deus nos ajude nestes dias difíceis. E que a paz de Deus esteja sempre em nossa vida! Amém.

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