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Vivendo a espiritualidade da Semana Santa

Jonathan Costa Rocha

A Semana Santa é assim chamada porque nela se celebra os momentos mais importantes da nossa salvação. Em síntese, Jo 3,16-17 apresenta: “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. Com sua entrega Jesus santificou esta semana por cada um de nós, e, quanto a nós, devemos santificá-la com nosso compromisso de Cristão.

O Domingo de Ramos marca o início dessa grande semana, e nele temos a entrada de Jesus em Jerusalém aclamado Rei por uma multidão irradiante de alegria. Estendem seus mantos, agitam os ramos que têm nas mãos e soltam gritos de louvor: “Bendito aquele que vem, o Rei, em nome do Senhor! Paz no céu e glória no mais alto dos céus!” (Lc 19,38). Na celebração de Ramos e da Paixão do Senhor, no dia 24 de março de 2013, o Papa Francisco em sua homilia, na Praça de São Pedro, fala aos fiéis presentes desse clima de alegria manifestada pela multidão com a entrada de Jesus em Jerusalém. Mas, o Santo Padre apresenta alguns questionamentos que nos ajudam a vivência e fortalecer nossa espiritualidade para a Semana Santa. Assim fala o Papa:

Para que entra Jesus em Jerusalém? Ou talvez melhor: Como entra Jesus em Jerusalém?
A multidão aclama-O como Rei. E Ele não se opõe, não a manda calar (cf. Lc 19, 39-40). Mas, que tipo de Rei seria Jesus?

[…] Quem O acolhe são pessoas humildes, simples, que possuem um sentido para ver em  Jesus algo mais; têm o sentido da fé que diz: Este é o Salvador. Jesus não entra na  Cidade Santa, para receber as honras reservadas aos reis terrenos, […] entra para receber uma coroa de espinhos, […] para subir ao Calvário carregado com um madeiro. […] Jesus entra em Jerusalém para morrer na Cruz.

E é precisamente aqui que refulge o seu ser Rei segundo Deus: o seu trono real é o madeiro da Cruz!

[…] Porquê a Cruz? Porque Jesus toma sobre Si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, […] e lava-o; lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus. […] na cruz, Jesus sente todo o peso do mal e, com a força do 
amor de Deus, vence-o, derrota- o na sua ressurreição. 

Este é o bem que Jesus realiza por todos nós sobre o trono da Cruz.
Abraçada com amor, a cruz de Cristo nunca leva à tristeza, mas à alegria,à alegria 

de sermos salvos e de realizarmos um bocadinho daquilo que Ele fez
no dia da sua morte.

No tempo intermediário entre o Domingo de Ramos e o Tríduo Pascal, a liturgia da segunda, terça e quarta-feira santa, apresenta preciosos textos bíblicos e orações que nos introduzem, aos poucos, no mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Além da celebração eucarística, a Igreja, conforme a possibilidade, oferece aos fiéis o acesso à confissão sacramental.

A religiosidade popular criou uma série de atos de piedade ao longo da Semana Santa que não constam na liturgia, sobretudo as procissões. A liturgia prevê apenas a procissão de Domingo de Ramos, a pequena procissão do Santíssimo na quinta-feira Santa para o local fora da Igreja onde permanece em adoração e a procissão com o Círio aceso na Vigília Pascal. Mas, duas coisas são importantes: primeiro, o respeito pela piedade popular que não entendia as cerimônias da Semana Santa e a partir daí foram surgindo expressões populares de piedade, de fé e de compaixão; segundo, insistência no essencial, ou seja, a liturgia da Igreja. E, dentro de todo esse tempo, a Ressurreição é o grande farol que nos guia.

O Tríduo Pascal é o centro e o cume do Ano Litúrgico. Começa com a Missa da Ceia do Senhor na Quinta-feira Santa, tem seu ponto alto na Vigília Pascal e termina no entardecer do Domingo da Ressurreição. Na Quinta-feira Santa há o rito do Lava-pés, a Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio que manifesta a unidade com o único Sacerdócio de Cristo, (cf. Jo 13,1-5.12-15). A missa não termina neste dia; em lugar dos ritos finais, faz-se a Transladação do Santíssimo Sacramento e a adoração. Momento convidativo para um profundo encontro pessoal com o Cristo Sacramentado.

Na Sexta-feira Santa, seguindo uma tradição muito antiga, não há Celebração Eucarística, mas põe em destaque a proclamação da Palavra. Em seguida, às 15h, nas Igrejas, celebra-se a Paixão do Senhor, não como num funeral, e sim, a morte vitoriosa de Jesus Cristo. (cf. Jo 19,28-30). Porém, antes de sua morte Jesus sofreu e sua maior dor foi quando gritou na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mt 27,46; Mc 15,34). Chiara Lubich[1], em seu livro “Jesus Abandonado” (p. 28-29) ao falar da maior dor, acredita que esta, a dor do abandono, foi a dor extrema. Assim, ela convida a uma espiritualidade que possibilita experimentar justamente o amor a esse Jesus Crucificado e abandonado como possibilidade para colocar em prática a unidade.

No Sábado Santo temos a Vigília Pascal, mas durante o dia, vê-se na figura de Maria, a hora em que ela, mais uma vez, haverá de guardar “todas essas coisas, meditando em seu coração”. Por isso, mais que um luto em torno da morte de Jesus, somos convidados a nos preparar para o que virá com grande explosão de júbilo, na noite santa da Vigília Pascal: a ressurreição do Senhor. É celebrada depois do anoitecer do Sábado Santo e antes do amanhecer do Domingo da Ressurreição. É chamada por Santo Agostinho de “a mãe de todas as vigílias”, e nela a Igreja espera, velando, a Ressureição do Senhor. O sepulcro é encontrado vazio (cf. Mt 28,1-10; Jo 20,1-18)

Por fim, temos a Páscoa do Senhor. Páscoa em hebraico significa “passagem”. É a festa mais importante do povo judeu e o eixo central da fé cristã. Sem ela não existe Ano Litúrgico. A nossa Páscoa nasceu da Páscoa judaica, é, portanto, a passagem da escravidão à liberdade, da morte à vida. Ela é celebrada de modo intenso na Semana Santa e Domingo de Páscoa, sendo esse celebrado igualmente em todas as missas. A morte de cada pessoa é sua Páscoa, a passagem deste mundo para o Pai. A Páscoa é vitória da vida sobre a morte. São Paulo em 1Cor 5,7-8 nos convida a vivenciá-la com novo fermento, afim de que seja a vitória de Jesus e também a nossa. Ele é o primogênito de uma grande família, a humanidade. Abriu-nos a porta da ressurreição e da imortalidade. Por isso, toda a liturgia do dia da Páscoa está centrada na pessoa de Jesus Cristo,“o ressuscitado”.

Referências:

BORTOLINE, Pe. José. Quaresma, Páscoa e Pentecostes: 62 perguntas e respostas sobre o ciclo da Páscoa. 6º ed. São Paulo: PAULUS, 2011.

Quaresma e Páscoa: como celebrar?. 1º ed. São Paulo: PAULUS, 2014.

Celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, Homilia do santo padre Francisco. Disponível em:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2013/documents/papa-francesco_20130324_palme.html

LUBICH, Chiara. Jesus Abandonado. Vargem Grande Paulista, SP: Cidade Nova, 2016.

[1] Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares. Este, surgiu na Itália durante o período da Segunda Guerra Mundia e tem como carisma a Unidade, baseado no pedido de Jesus “Que todos sejam um” (Jo 17,21).

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