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VOCAÇÃO: A PROPOSTA DE VIDA DE DEUS PARA A PESSOA

A Igreja nos propôs no mês de agosto meditarmos sobre as vocações. Esse tema de fato é muito importante para a caminhada cristã, e exige de cada pessoa a consciência de que se é um vocacionado, isto é, de que cada um é chamado por Deus a alguma coisa.

Na Bíblia, são paradigmáticos os chamados dos profetas. Cada profeta inicia a sua missão a partir de uma vocação, um chamado próprio e bem pessoal que recebe de Deus: é o caso de Moisés, Jeremias, Isaías, Amós, etc. Deus chama e indica uma missão. Vamos tomar o exemplo do profeta Jeremias e o belíssimo texto de sua vocação em Jr 1,4-10.
Digo que são paradigmáticos, porque servem de modelos para cada um de nós, batizados, seguidores de Jesus, como fonte de inspiração e também como um meio para que cada um também escute a voz de Deus que continua a nos falar e nos chamar através de sua Palavra.
Assim como Jeremias, somos chamados a acolher essa Palavra: “Antes de formar você no ventre da sua mãe, eu o conheci!” (1,5). Que maravilhoso é saber que não somos frutos do acaso, mas somos filhos e filhas de um Deus que nos quis. O Papa Francisco nos fala que “fomos concebidos no coração de Deus e, por isso, cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário” (Laudato Si 65). Esse é o primeiro chamado que recebemos: a VOCAÇÃO À VIDA.
Seguindo a Palavra, nos é dito: “Antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei” (1,5). Consagrar significa separar, escolher. Desde o princípio Deus já nos separou para Ele, para uma missão. Vemos que a iniciativa é toda de Deus, a nós cabe apenas a resposta. O segundo chamado nos vem no batismo, no qual a nossa eleição da parte de Deus é confirmada: é a nossa VOCAÇÃO CRISTÃ. Como batizados e batizadas, somos completamente envolvidos pela graça de Deus e nos tornamos seus filhos, “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8,17).
Recebemos a Vida, nos consagramos a Deus, mas para quê? “para fazer de você profeta das nações” (1,5). Fomos consagrados para uma grande missão. E como batizados, participamos da mesma unção de Cristo na qual somos constituídos como profetas, sacerdotes e reis. Em nossa reflexão, vamos nos dedicar à missão profética: A palavra profeta, em sua raiz antiga, desde o hebraico nabí significa “falar”; em latim, propheta significa “porta-voz”; Ou ainda do grego prophétes, “discursar em público”.
Muitos podem estar pensando: “Ah, mas eu não sei falar, como posso ser um profeta?” Nesse momento, o próprio Deus tem uma resposta, pois a mesma coisa Jeremias disse ao Senhor, conforme o versículo seguinte: “Ah, Senhor, eu não sei falar, porque sou jovem” (1,6). Essa é a nossa primeira tentação: fugir dos próximos chamados de Deus, por medo das exigências que esses chamados podem nos implicar. Jeremias também tentou fugir. Ele era um jovem do século VI a.C., o que nos indica que pelo visto as coisas não mudaram muito de lá pra cá. Enfim, seguindo o nosso itinerário, as próximas vocações são as chamadas VOCAÇÕES ESPECÍFICAS, que nos apontam a missão que Deus tem para cada um de nós na Igreja e no mundo.
As vocações específicas são quatro: VOCAÇÃO SACERDOTAL, à VIDA RELIGIOSA E CONSAGRADA, MATRIMONIAL e LEIGA.
Cada vocação específica implica em si um modo especial de falar e se relacionar com Deus, por isso, cada uma delas, exige do cristão o seu ministério profético, porquanto, o seu ministério de ser um “porta-voz de Deus”.
Poderíamos perguntar: mas essa não é uma missão específica dos sacerdotes, dos religiosos e religiosas e daqueles que vão pregar a Palavra de Deus? Não! Essa é a missão de todo o cristão, a partir do mandato missionário de Jesus: “Ide e fazei com que todos os povos se tornem meus discípulos!” (Mt 28,19). Porém a dimensão do falar está para além de ser apenas o discurso com palavras. Fala-se de muitas maneiras, e hoje em dia, na era da internet e da comunicação, os modos de falar se multiplicam com as redes sociais, TV, rádio, canais da internet… os nossos modos de ser e estar no mundo, e fala-se principalmente com a vida. O modo de viver a nossa vocação expressa o modo como falamos de Deus.
Qual a lição com tudo isso? Podemos falar de diversas formas. Falamos com nossos gestos, falamos com nossas atitudes, muito mais do que com as palavras. São Francisco de Assis dizia: “Evangelizar sempre, se preciso use palavras”. Evangelizamos primeiro com a nossa vida.
Rapidamente, olhemos para cada vocação específica, celebrada em cada domingo deste mês vocacional. A primeira é a VOCAÇÃO SACERDOTAL, para aqueles que são chamados ao sacramento da Ordem: diáconos, padres e bispos. Homens chamados a configurar-se a Cristo servo, pastor e cabeça da Igreja. No segundo domingo celebra-se o dia dos pais e, portanto, a VOCAÇÃO MATRIMONIAL, dos homens e mulheres chamados ao sacramento do Matrimônio, com a sua missão específica de formarem uma só carne, e colaborarem com o Senhor no seu projeto criador dando a vida e educando os novos filhos e filhas de Deus. No terceiro domingo celebramos a VOCAÇÃO RELIGIOSA CONSAGRADA, daqueles homens e mulheres que, pela consagração total a Deus através da vivência radical dos conselhos evangélicos: pobreza, obediência e castidade, se dedicam ao serviço dos irmãos e irmãs em um carisma específico. E por fim, no último domingo, celebramos a VOCAÇÃO LEIGA, daqueles homens e mulheres, casados ou não, que estão inseridos no mundo, na sociedade civil, no trabalho e nas nossas comunidades, para serem, nestes espaços, Sal e Luz (cf. Mt 6,13-16), santificando-os com o seu testemunho de vida.
Portanto, celebrar o mês vocacional, é celebrar propriamente a nossa vida, que desde o princípio, antes mesmo de nosso nascimento, já possui um desígnio próprio, marcado pelo Senhor, a fim de nos conduzir para a vida querida por Ele para cada um de nós, a vida em abundância (cf. Jo 10,10).
Ninguém está excluído da vocação, todos somos chamados a obedecer a Deus e seu desígnio para cada um: “Não diga ‘sou jovem’, porque você irá para aqueles a quem eu mandar e anunciará aquilo que eu ordenar. Não tenha medo deles, pois eu estou com você para protegê-lo”. (1,7-8).
Deus não apenas nos dá a missão, Ele nos faz uma promessa: “EU ESTOU CONTIGO!”
E aí, vamos nessa? Prontos para responder?

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