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O retorno ao Templo no contexto do Mês Missionário

A Igreja destaca o mês de outubro para intensificar as ações missionárias e dedica o terceiro domingo deste mês para rezar pelos missionários e missionárias clamando ao “Senhor da Colheita que envie trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9, 38). O tema do mês missionário de 2020 é: “A vida é missão”, pois levar a mensagem salvífica de Jesus no coração e proclamá-la por palavras e atos por onde fores é missão de todo cristão. O lema recorda a vocação do profeta Isaias: “Eis-me aqui, envia-me” (6,8), e convida os batizados a assumirem sua vocação cristã. Retornar a ‘casa do Pai’ após o longo período de distanciamento social, por conta da pandemia da Covid 19, interpela os fiéis a responderem o questionamento vocacional que o Senhor faz: “Quem enviarei?” (Is 6,8).

O Dia Mundial das Missões foi instituído em 1926 pelo papa Pio XI (1922-1939), um apaixonado pela missão, por sugestão dos seminaristas da Arquidiocese de Sassari região da Sardenha – Itália – que apresentaram a proposta de se celebrar um dia dedicado às atividades missionárias na Igreja ao secretário da Sagrada Congregação de Propaganda Fide (hoje, a Congregação para a Evangelização dos Povos), Monsenhor Luigi Drago. E pediram-lhe que tratasse a questão com o Papa.  Ao receber a proposta o papa Pio XI disse que esta era uma inspiração vinda do céu. No dia 14 de abril do mesmo ano, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos informava a aprovação do dia mundial para as missões a ser celebrado anualmente no terceiro domingo de outubro.

Em 1963, o papa Paulo VI tomou iniciativa de enviar por escrito e a viva voz uma Mensagem Pontifícia a fim de promover a participação e a colaboração ativa dos fiéis nas atividades missionárias.

Em mensagem para o dia das missões de 1965, o Papa Paulo VI agradeceu o empenho dos missionários, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos dizendo-lhes que “respondendo a um sublime chamado, deixando família, casa, pátria, tornastes-vos anunciadores da paternidade de Deus, da divindade de Cristo, do mistério da Salvação que se dá na Igreja” (Pontifícias Obras Missionárias, 2008, p. 16). O papa são João Paulo II, em 1981, lembrava que “ver multiplicar-se no mundo pequenas comunidades cristãs, dinâmicas e abertas, que compreendam a própria responsabilidade no anúncio do evangelho” (2008, p. 95), aumenta a esperança e confiança na luta por um mundo melhor.  No ano de 2008, o papa emérito Bento XVI, fazendo referência ao apóstolo Paulo, salientava que a “atividade missionária é uma resposta ao amor com que Deus nos ama”. E acrescentou que o “seu amor redime-nos e estimula-nos para a missão ‘ad gentes’; […] e, é energia espiritual capaz de fazer crescer na família humana a harmonia, a justiça e a comunhão entre as pessoas, raças e povos” (2008, p. 222).

A mensagem do Papa Francisco para o dia das missões de 2020 aponta o chamado vocacional do Profeta Isaias: “Eis-me aqui envia-me” (6, 8). E nos convida a responder decididamente à interpelação do Pai: “Quem enviarei?” (Is 6,8). Neste contexto de pandemia esta pergunta atravessa não somente a Igreja, mas toda a humanidade, de modo que cada cristão deve sentir-se tocado por este apelo divino. Muitos filhos de Deus quando confrontam seu estilo de vida e suas escolhas, com a vocação própria do cristão, o amor, percebem que nem sempre suas escolhas vão ao encontro da vontade de Deus para sua criatura. Quando esta resposta não tem profundidade no coração, Jesus convida ao amor gratuito, na doação total a Deus e ao outro.

O ofício da “Igreja em saída” missionária presente na Exortação Evangelii Gaudium encontra seu impulso primário na pessoa de Jesus Cristo que inspirado pelo Espírito chama a sua Igreja a deslocar-se na direção dos mais fragilizados e carentes de cuidados e proteção. A missão e vocação dos batizados é tornar visível a dinâmica do Reino no meio dos homens e isto não é possível sem a promoção da vida humana. Por isso o tema da campanha do mês missionário afirma que “a vida é missão”.

Para o Papa Francisco compreender a mensagem que Deus está manifestando neste momento histórico é um enorme desafio, pois, as condições de sofrimento, doença, medo, desemprego e abandono em que muitos irmãos e irmãos se encontram nos questionam. Contudo, salienta que o isolamento levou muitos homens e mulheres a compreenderem que são necessitados da vivência comunitária e da presença de Deus em suas vidas. Quem dos irmãos que fazendo a experiência do isolamento não se angustiou com o imobilismo e não desejou participar do banquete eucarístico e do convívio comunitário?

Durante o período de distanciamento social a Igreja, visando o cuidado e acatando os decretos governamentais, orientou os fiéis a fazerem a experiência das comunidades domésticas, comum aos primeiros cristãos; promoveram missas, momentos de oração e formações transmitidas por meio do rádio, televisão, redes sociais e outras plataformas de mídias digitais; manteve as capelas do santíssimo abertas para visitas; promoveu ações solidárias em favor das famílias carentes. Isto significava dizer que enquanto estava com as portas fechadas para as celebrações presenciais a Igreja se esforçava para levar uma mensagem de conforto e de esperança aos fiéis.

Este período provocou o sentimento de solidariedade nos corações e levou muitos cristãos e não cristãos a superarem as diferenças e se unirem no compromisso mútuo a favor da vida e das necessidades básicas dos povos e nações carentes no mundo. As propostas para o mês das missões e a própria vocação missionária dos batizados convidam ao exercício da caridade.

O retorno do Povo de Deus às cerimônias litúrgicas nas comunidades geram expectativas, pois há tempo os fiéis aguardavam o retorno ao convívio nas Comunidades Eclesiais de Base. Porém, maior é a responsabilidade da Igreja quanto ao cumprimento das normas sanitárias recomendadas pelos órgãos competentes a fim de que os fiéis possam celebrar a fé no Ressuscitado sem riscos para sua saúde.

A reabertura das igrejas alegrou o povo de Deus, pois possibilitou-lhe participar presencialmente da celebração da Palavra e da Eucaristia. Contudo, o Arcebispo de Palmas (TO), Dom Pedro Brito Guimarães manifesta sua preocupação com o abandono da Eucaristia. Em seu artigo “a desafeição da eucaristia em tempo de pandemia, real ou fictícia?”, afirma: “Durante o tempo em que estávamos em restrições, recebi muitas mensagens de pessoas ávidas pela Eucaristia. Quando as restrições foram redimensionadas, os fiéis não apareceram nas igrejas, como era de se esperar”.

Neste sentido Dom Pedro Guimarães se pergunta sobre os prejuízos para a fé dos fiéis, caso os crentes se acostumem com as missas virtuais e deixem de participar de forma ativa nas celebrações litúrgicas. A este respeito o Concílio Vaticano II nos diz que “a liturgia renova e aprofunda a aliança do Senhor com os homens, na Eucaristia, fazendo-os arder no amor de Cristo” (Sacrosanctum Concilium, nº 10). Daí compreende-se que a presença real nas celebrações litúrgicas não pode ser substituída pela ‘presença virtual’, sem grandes prejuízos para a vivência da fé em Jesus Cristo.

Com o redimensionamento das restrições, e sem deixar de observar os cuidados necessários, cada filho amado do Pai é chamado a viver a fé em comunidade e realizar a missão de batizado participando ativamente da vida comunitária a fim de encorajar os irmãos no cuidado com o outro e com a criação, pois “a vida é missão”. A resposta que Deus espera ouvir neste interim é aquela dada por Isaías: “Envia-me” (6, 8). Responder sim ao chamado do Pai é um gesto de amor gratuito para com a causa de Jesus e a vida do próximo, sobretudo daqueles que padecem na carne e no espírito as consequências desta pandemia.

Para viver a missão, neste mês missionário, observando a dinâmica do amor pode-se tomar o bom exemplo de são Francisco de Assis: a oração, o cuidado e a partilha.  São Francisco era assíduo na oração tanto na vida comunitária quanto na intimidade com Deus e assim superava as provações físicas e espirituais. Homem zeloso e integrado à natureza respeitava e cuidava da vida, fosse animal ou vegetal, como que a um irmão. Neste contexto de pandemia outra situação que preocupa a Igreja no Brasil são as queimadas que vem acinzentando os ecossistemas nacionais e causando danos irreparáveis a biodiversidade em escala mundial.

A partilha é outro marco da vida do pobre de Assis. Despindo-se de seus bens optou por viver da generosidade das pessoas. Seguindo seu exemplo muitos irmãos deixam casa, trabalho, pátria e se colocam no seguimento de Jesus e contam com a partilha dos irmãos para levar a cabo a missão confiada à Igreja por Jesus.

Por fim, cabe exortar os irmãos a percorrerem o caminho do discipulado fiel a Jesus Cristo, assumindo a missão de batizados no Amor. O mês missionário oportuniza aos fiéis exercerem o amor gratuito, por meio da oração pelas vocações missionárias ad gentes; da doação material a favor das obras missionárias; e, da opção pelo seguimento radical a Jesus, o Bom Pastor. Nesta perspectiva a Igreja por meio de seus pastores está empenhada em proporcionar uma fraterna acolhida aos seus fiéis a fim de que ao se aproximarem da “fonte da vida” (Jo 4, 14) sintam a presença afetiva do Senhor no templo. Que Nossa Senhora Aparecida interceda por seus filhos e filhas e ajude-nos a caminhar ao encontro do Pai, assumindo a nossa vocação missionária na vivência comunitária da eucaristia.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIBLIA.  Bíblia Sagrada. Tradução Oficial CNBB. 1. ed. São Paulo: Edições CNBB, 2018.
CONCÍLIO VATICANO II. Vaticano II: Mensagens Discursos Documentos.  Sacrosanctum Conctilium. São Paulo: Paulinas, 2007.
GUIMARÃES, Brito Pedro, Bispo.  A desafeição da eucaristia em tempos de pandemia, real ou fictícia? Disponível em: <https://www.cnbb.org.br/a-desafeicao-da-eucaristia-em-tempo-de-pandemia-real-ou-ficticia/>. Acesso em: 28/09/2020.
PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS. Campanha Missionária 2020. Disponível em: <http://www.pom.org.br/campanha-missionaria-2020/>. Acesso em: 28/09/2020.
PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS. Mensagens Pontifícias: Dia mundial das Missões. Brasília: Impacto, 2008.

A nossa vida é essencialmente missionária

A vida é missão! Com esta motivação, as Pontifícias Obras Missionárias (POM) trazem neste ano, com o lema do profeta Isaías 6,8: “Eis-me aqui, envia-me”, o que iremos rezar neste mês missionário. É preciso salientar a realidade atual em que somos chamados a viver, num caminho de missão que se apresenta de formas inusitadas e desafiantes. Com a pandemia do Covid-19, foi preciso mudar o jeito de evangelizar e continuar o caminho. Uma delas, talvez esquecida por muitos, novamente foi enaltecida: a oração. Assim como Santa Terezinha do Menino Jesus, patrona das missões, que do seu claustro rogou incessantemente a Deus pelas missões, transformamos nossas “vidas isoladas” em “terrenos missionários”, lugares onde o desejo pela missão novamente foi manifestado por todos. Uma vida cristã que não traz consigo o desejo de espalhar o Cristo que se doa é semelhante à semente que nada produz (Mt 13, 18s), à lâmpada que se esconde (Mt 5, 15), à moeda permanentemente desaparecida (Lc 15, 8s). Uma vida missionária é um caminho de contínua busca pelo Senhor, de amadurecimento e formação (EG, 2013, n.160). Nossa vida é missão. Precisamos ser pessoas da esperança definitiva. O mundo está doente e de diferentes formas: o medo do outro, a peste do ódio, a aridez do amor, a intolerância com o diferente, o descuidado com a vida. O texto das POM (2020) nos conclama a “defender e cuidar da vida em todas as suas dimensões”, e assim, termos a certeza de que tudo é bom, pois foi criado por Deus.

Estamos aqui e mais uma vez o Senhor nos quer enviar em missão. Cabe darmos o SIM, transformador da realidade e gerador de vida e em plenitude para todos. O Papa Francisco, para o Dia Mundial das Missões deste ano diz (2020): “Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento.” Não tenhamos medo em anunciar a Boa Nova. Peçamos ao Espírito Santo que renove o nosso coração para sempre vivermos o anúncio da vida nova, renovada na ressurreição do Mestre e assim, impulsione-nos à missão (ChV, 2019, n.131). O Senhor nos envia em missão. Tenhamos coragem em dizer SIM. Que Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e Santa Terezinha do Menino Jesus, intercedam por nosso viver missionário.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRANCISCO. Christus Vivit: para os jovens e para todo o povo de Deus. 1 ed., São Paulo: Paulus, 2019.
______. Evangelii Gaudium:  A alegria do Evangelho. São Paulo: Loyola, 2013.
______. Mensagem de sua Santidade Papa Francisco para o dia mundial das missões de 2020. Disponível em:< http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/missions/documents/papa-francesco_20200531_giornata-missionaria2020.html> Acesso às 9h44, 24 Set. 2020.
POM. Campanha Missionária 2020. Disponível em: <http://www.pom.org.br/campanha-missionaria-2020/> Acesso às 9h23, 24 Set. 2020.

 

MEMÓRIAS DE DOM ALDO: 49 ANOS DE EPISCOPADO

Primeira etapa da minha vida.

Fui coroinha dos 6 aos 12 anos, com muito gosto e orgulho do Sagrado.

Na minha aldeia frequentei a escola primária 5 anos e mais um ano por licença e sugestão de meus pais para decidir encaminhamento:

– ser técnico marceneiro;

– ou padre diocesano.

Nesse tempo recebi a visita de um comboniano, Pe. Lourenço, barbudo, ele falou muito sobre as missões na África e eu me decidi: “vou ser missionário lá para salvar pelo menos uma alma e depois morrer na simplicidade!”.

Comecei a preparação para ser padre: entrei no seminário aos 12 anos. Fiz 5 anos de ginásio, 2 de noviciado (tempo de espiritualidade e mística), 6 de Filosofia e Teologia. Escolhi fazer estes dois últimos cursos em Roma, bem ao lado da Basílica de São Pedro, um privilégio! Tive dificuldades. Na mesa de estudo tinha um mapa da África…

Após a ordenação tive uma surpresa: não fui enviado à África, mas ao Brasil. Saí, de navio, em novembro de 1957 e cheguei a São Mateus no mês seguinte. O território era mata atlântica, as atividades eram extração de madeira nas florestas. Não tinha asfalto. As viagens eram a cavalo debaixo de sol causticante. Fiquei como ajudante do padre e visitava as capelas do interior. Vi muitas comunidades nascerem. A pastoral era basicamente ministrar sacramentos.

Em 1962 Dom José mandou-me uma mensagem dizendo que eu seria o secretário dele no Concílio Vaticano II. Aproveitei para fazer novo estudo em Roma: Doutrina Social da Igreja. Retornei ao Brasil e fui para São José do Rio Preto e depois, de novo, São Mateus. Na Diocese me encarreguei das Pastorais Sociais, acompanhando sindicatos, que naquela altura eram fracos, e ajudando o povo a se organizar, sempre ao lado de Dom José.

A segunda etapa de minha vida foi maior.

Dom José renunciou e eu fui indicado para ser administrador da Diocese. No dia 24 de maio de 1971, aos 40 anos, fui nomeado bispo. Aceitei porque já conhecia a Diocese. Foi quando me perguntei: “e o meu sonho infantil de salvar uma alma na África e morrer lá?”

Fiz 5 visitas pastorais. Nas três primeiras visitei todas as comunidades. Uma vez fiquei em Ecoporanga 1 mês e 10 dias, sem vir a São Mateus. Pensei: “devo ir a São Mateus para ver se alguém deu um golpe de estado?” (risos). Cada pedaço de comunidade, cada pessoa, é um pedaço da minha alma! Creio que respondi de forma razoável aos clamores. Fiz tudo na certeza de caminhar com o povo de Deus rumo ao Reino de Deus. Ser presença Dele no mundo. Nos 36 anos de Bispo quantas alegrias e cruzes! Sofri até atentado no bispado com ataques de tiros. Houve momentos de crise…

Esta história é conhecida, apresentei uma avaliação rápida, imediata, superficial. A graça de Deus foi maior que minhas fraquezas. Glória a Deus! Gratidão afetuosa ao povo! Estou aqui para agradecer. A vocação é um processo, uma longa caminhada, a graça de Deus vai nos ajudando. As estruturas foram feitas pelo antecessor. Comigo foi feita a Catedral, o mosteiro e o seminário. Ordenei mais de 30 padres. A renúncia foi aceita pelo papa em 20 de março de 2006.

O Pai do céu tem um projeto para os jovens de hoje. Há uma nova vocação humana para todos os batizados:

– vocação à vida

– vocação à tarefa, missão etc.

Nossa passagem no mundo deve deixar nossas marcas: pequena, desconhecida ou maior. Que haja duas exigências:

– descobrir o que Deus quer de mim

– agir para tal ideal.

A importância da comunicação divina na garantia da vida

Comunicar sempre esteve em nosso enredo antropológico. Desde a criação, o poder da palavra foi modelando as nossas condições humanas. Pelo “façamos” (Gn 1, 26), um ser à imagem de Deus fora feito: “Eu”. O “feito da terra” ganhou a semelhança divina, ou seja, criaturas feitas, caminhamos pela razão, para nos aproximarmos do Criador (BASÍLIO, 1998). Deus comunicou a sua bondade nos criando (ATANÁSIO, s.d.), disse a cada um de nós, desde a nossa concepção, o quanto nos ama e deseja que ao amarmos o outro, narremos as mais belas histórias nesta “saga” que em certos momentos teríamos muitas perturbações (Sl 42,12), mas Ele mesmo disse que não nos deixaria órfãos. Daria o Espírito da Verdade, aquilo que o mundo não fora capaz de receber (Jo 14, 17-18). Em Cristo, a nossa condição decaída pelo pecado é dignificada, pois a palavra criadora de outrora, teve compaixão e as trevas que nos envolviam, foram suprimidas pela ação do Verbo (Jo 1,5).

O Papa Francisco, na mensagem para o 54° dia Mundial das Comunicações Sociais, convida-nos a valorizar estas histórias que nos marcam, emocionam, cativam e dão esperança em tempos de crise. Com o texto do Êxodo, vemos que Deus é o Senhor da nossa história: “Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). O Senhor não abandona seu povo e revela na história tamanha bondade que misteriosamente nos encanta e nos faz caminhar, apesar das dores da vida. É verdade que a nossa história começou a ser narrada não segundo os desígnios divinos: quisemos não SER e desejamos a todo custo TER. Não fomos capazes de comunicar a beleza da sua obra e o nosso zelo para com ela tem sido catastrófico nos últimos anos da humanidade.

Decerto, nem todas as muitas histórias vividas por nós tiveram finais felizes, mas há uma História que superou a nossa crise primeira: a história do amor que não nos abandonou. Deus continua a narrar a nossa esperança em tempos melhores. Segundo o Papa Francisco (2020) “cada história humana tem uma dignidade incancelável” e assim, querer admitir que não temos mais motivos para descrever tantas belas narrativas é ir contra o sonho de Deus: “Que todos sejam um” (Jo 17,21), e aquilo que num capítulo de nossa existência, abandonamos o autor da vida, para viver “a minha exclusiva história”, fomos readmitidos a esta narrativa, em que não somos donos do “ponto final”, mas a todo momento estamos sujeitos a mudanças. O Autor deste roteiro nos quis aqui não como meros objetos, e sim, como os seres mais capazes de ressignificar a vida mediante as tantas crises que ainda teremos de enfrentar. “Nunca é inútil narrar a Deus a nossa história” (FRANCISCO, 2020). Façamos isso quantas vezes for preciso e o Senhor da História nos mostrará os caminhos que teremos de escolher. O Seu amor nos comunicou que a vida venceu a morte.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASÍLIO DE CESAREIA. Homilias sobre a origem do Homem. São Paulo: Paulus, 1998.

BÍBLIA SAGRADA. Tradução Oficial da CNBB.1 ed. Brasília: CNBB, 2018.

FRANCISCO.Mensagem do Papa Francisco para LIV dia Mundial das Comunicações Sociais. 2020.Disponível de: <http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/papa-francesco_20200124_messaggio-comunicazioni-sociali.html> Acesso em 23 Mai.2020.

SANTO ATANÁSIO. A encarnação do Verbo. S.d. Disponível de: <https://ortodoxia.pt/data/Patristica-18.pdf> Acesso em 23 Mai. 2020.

Valor da vida frente à economia

Em tempos de pandemia do coronavírus (COVID-19), uma das preocupações é manter a população saudável e buscar meios para conter o avanço do vírus. Pelo menos deveria ser essa prioridade de todos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem recomendado medidas preventivas para manter a vida intacta. Uma delas é o isolamento social. Cabe à população, orientada pelos governantes, em sua liberdade e necessidade, exercer as medidas que julgarem convenientes.

Até então o isolamento social apresenta-se como o meio mais eficaz de se conter o avanço dessa pandemia. Porém, muitos não tem tratado com seriedade a gravidade da situação, ignorando as orientações fornecidas pelas autoridades de saúde e, por isso, as conseqüências do avanço da pandemia. Nota-se que a preocupação de alguns não é tanto com a saúde, mas de que o país não deve “parar”, pois a economia é diretamente afetada, impedindo o desenvolvimento. A preocupação com a economia não deixa de ser válida, porque é através dos recursos financeiros gerados pelos impostos na movimentação de mercado, que o país se mantém e, principalmente, os recursos para a área da saúde.

Mas frente a esse dilema é de se pensar o que realmente torna-se importante: preservar a vida ou não deixar a economia parar? Padre Zezinho, na música “Em prol da vida” (1994) inspirada no livro do Deuteronômio, permite uma profunda reflexão sobre a escolha que se deve fazer: “Diante de ti ponho a vida e ponho a morte. Mas tens que saber escolher. Se escolhes matar, também morrerás. Se deixas viver, também viverás. Então viva e deixa viver […]” (cf. Dt 30, 15-20).

Se escolhermos a economia, fazendo com que todos voltem a sua rotina normal, colocaremos vidas em risco, pois no momento o isolamento social ainda é a melhor prevenção. Se escolhermos a vida, a economia será afetada e o país deixa de crescer e com o tempo não haverá recursos para mantermos os hospitais e o funcionamento básico das redes públicas.

Os cálculos neste momento não devem ser somente financeiros. Deve-se levar em conta as vidas que serão ceifadas. Valeria a pena perder tantas vidas para manter a economia? O Brasil é um país rico, o agronegócio não para e os recursos naturais são explorados diariamente.

Diante de uma escolha que se deve fazer, a vida deveria ser priorizada; todos tem direito de viver. A Doutrina Social da Igreja também nos auxilia nessa reflexão quando afirma que “[…] O agir humano, quando tende a promover a dignidade e a vocação integral da pessoa, a qualidade das suas condições de existência, o encontro e a solidariedade dos povos e das nações, é conforme ao desígnio de Deus, que nunca deixa de mostrar o Seu amor e a Sua Providência para com Seus filhos”. (COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, 2005, p. 34).

Enfim, que nossas lideranças governamentais planejem uma estratégia futura para recuperação econômica. Vale a pena pensar que agora seja o momento de “apertar os cintos”, cortar gastos, remanejar recursos e replanejar a estratégia de governos, pois sem pensar no valor da humanidade de nada adianta salvar a economia.

A Espiritualidade Mariana em tempos de Pandemia

A Virgem Maria é fonte de inspiração para numerosos cristãos, que sempre recorrem a ela em tempos de aflição espiritual em busca de conforto para a alma, ou quando em tempos de bonança para agradecer os benefícios alcançados.

Maria foi a primeira a ser evangelizada ao receber em sua presença o Anjo (Lc, 1 26-28) enviado do Pai, para anunciar-lhe a Encarnação do Verbo Divino. Foi a primeira a receber com solicitude a mensagem da salvação ao acolher em seu ventre virginal o Verbo encarnado, o “Filho de Deus” (Lc 1, 35). Em concordância como teólogo Clodovis Boff, afirmamos que Maria teve a primazia na obra da evangelização, pois ao visitar sua prima Isabel (Lc 1, 39-45) ela “aparece […] como a ‘primeira evangelizadora’, que leva por primeiro a mensagem da Boa-Nova: O Messias Salvador chegou, isso porém depois de ter sido a ‘primeira evangelizada’” (BOFF, 2009, p. 44), e se tornar por meio da evangelização do anjo o “cofre que guarda o Tesouro” ou “a arca da Aliança” (BOFF, 2009, p. 18).

Ao se identificar como serva humilde do Senhor (Lc 1, 48), Maria nos ensina uma virtude muito cara e pouco assimilada no presente. Vive-se hoje a agitação motivada pelo mercado de consumo, que incita no ser humano desejos por vezes egóicos (egoístas) em que o ter é posto numa perspectiva superior ao ser. Com isso a reciprocidade, o fazer com, a comum-união e outras virtudes propriamente humanas são esquecidas ou mesmo evitadas. E ainda mais produz no coração humano o revanchismo desmedido e inconsequente.

Maria é o “trono da Sabedoria” (BOFF, 2009, p. 18). Ao contemplar a sua atitude diante dos desafios que enfrentara, encontra-se um manancial de vocação, amor e fidelidade ao ‘sim’ que manifestara ao apelo divino. Para superar o egoísmo que brota constantemente no coração humano, é bom recorrer à sua materna intercessão. Pois, ao olhar para os seus filhos e filhas amados, (com o mesmo olhar de serva humilde quando se dirigiu ao Pai), oriente-os afim de que superem as tentações da carne e se coloquem como “seguidores do caminho” (At 9, 2).

As mulheres e os homens que se colocam sob a materna proteção de Maria nutrem por ela um afeto filial e se espelham nela para superar as tribulações da vida. Esta relação filial entre os filhos e a mãezinha querida é estabelecida por meio das devoções populares “como o terço, as novenas, as promessas, as fórmulas de consagração, as romarias” que “são manifestações do coração” (MURAD, 2012, p. 209), dos seus filhos e filhas amados em virtude das graças alcançadas.

Fácil é encontrar histórias de pessoas e mesmo de comunidades que alcançaram grandes graças por intercessão da Virgem de Nazaré. Eis o relato de Haroldo Rahm (1985, p.96).

“Em 1737 terrível peste devastou o México de ponta aponta. Por toda a parte se fizeram penitencias públicas, procissões e preces. Só na Cidade do México centro da epidemia se fizeram setenta novenas solenes. Estava reservado a Nossa Senhora de Guadalupe restituir a saúde do país. Mal as autoridades civis e eclesiásticas começaram a deliberar a cerca da nomeação de Nossa Senhora de Guadalupe como Padroeira da cidade começou a peste a arrefecer. Quando esta notícia chegou às Províncias, todas cidades e aldeias castigadas fizeram votos de, também elas, tomarem Nossa Senhora de Guadalupe por padroeira e obtiveram proteção idêntica à que experimentara na capital” (RAHM, 1985, p. 96).

Este relato manifesta a confiança e a fé do povo mexicano na intercessão maternal de Nossa Senhora de Guadalupe, a ponto de dedicarem todo o País a sua proteção. Maria é solícita e atenta às necessidades de cada filho espiritual que a ela recorre em busca de alívio para corpo e para a alma.

Por meio da intercessão de Maria, Deus atende prontamente as súplicas dos seus filhos e filhas amados. Na festa de “casamento em Caná da Galileia” (Jo 2, 1-11), Maria se mostra atenta e percebe a carência de vinho e intercede em favor dos noivos, e Jesus atende suas súplicas. O papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2014, p. 225) disse que “como uma verdadeira mãe, ela caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus”. Se num ambiente festivo ela salvaguarda a alegria da festa, quanto mais não salvaguardará a saúde a seus filhos em tempos de calamidade para a vida humana.

A crise instaurada pela pandemia do coronavírus exige dos cristãos e mesmo dos não cristãos a consciência humanitária. O observar as recomendações sanitárias de higiene pessoal e coletivas se tornam expressões de amor consigo e ao próximo. Assim, quem cuida de si mesmo, cuida e protege também a sua família e toda sociedade. Esta é uma característica da Virgem Maria. Ela se preocupa com todos. É prestativa e está sempre disponível para cuidar da vida e o bem comum. Em tempos de grandes tribulações é imperativo que os cristãos, sobretudo, os católicos se aproximem mais de Deus, por meio da oração, seja ela pessoal, familiar ou em comunidade. O importante é se conectar com o sagrado por meio de súplicas.

A oração que brota espontaneamente do coração coloca a pessoa em contato com as suas realidades mais íntimas. Neste momento é oportuno fazer uma reflexão pessoal e pedir a Deus o perdão para as faltas do dia-a-dia, agradecer por tudo que generosamente ele provê para o bem do homem, suplicar em favor das necessidades pessoais e comunitárias, sem esquecer-se das pessoas em situação de rua, os indígenas, os quilombolas, os povos nômades, os que vivem nas periferias das grandes cidades e por todos os que carecem de proteção contra os males deste mundo.

As devoções marianas são um importante canal de ligação espiritual com o divino. Em geral as devoções “tem grande força simbólica e ritual” (MURAD, 2012, p. 208), sendo memorizada com facilidade e garantindo ao crente maior domínio e segurança para rezar. “É como se o ritual tivesse uma potência mágica, cujo segredo reside na disposição das palavras e dos gestos” (MURAD, 2012, p. 209).

Na carta para o mês de maio, endereçada aos católicos, o papa Francisco diz: “pensei propor-vos a todos que volteis a descobrir a beleza de rezar o Terço em casa, no mês de maio. Podeis fazê-lo juntos ou individualmente: decidi vós de acordo com as situações, valorizando ambas as possibilidades. Seja como for, há um segredo para bem o fazer: a simplicidade; e é fácil encontrar, mesmo na internet, bons esquemas para seguir na sua recitação”.

Em virtude do sim de Maria ao projeto salvífico de Deus, ela participa da missão de Jesus (ser o mediador entre Deus e o homem).  Quando se recorre às intercessões de Nossa Senhora, ela aponta diretamente para o Cristo, pois a sua vida está voltada exclusivamente para aquele que ela santamente concebeu. Por isso, os cristãos podem e devem reclamar com confiança, fé e amor os méritos da Virgem Maria, em todos as circunstâncias de suas vidas, com a segurança de que ela escuta atentamente a cada pedido e cada oração recitada e meditada no coração dos fiéis e as deposita diretamente nas mãos de seu Filho, Cristo Jesus.

 

REFERÊNCIAS

BOFF, Clodovis. Mariologia: Iniciação à Teologia. ___. Introdução geral à Mariologia. 7. ed. Petrópolis: Vozes. 2019. p.18

BIBLIA. N.T. Bíblia Sagrada. Tradução Oficial CNBB. 1. ed. São Paulo: Edições CNBB. 2018.

BOFF, Clodovis. Mariologia: Iniciação à Teologia. ___. Maria no Novo Testamento: Mariologia em Lucas. 7. ed. Petrópolis: Vozes. 2019. p.45

FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium. ___. Evangelizadores com Espírito: Maria a mãe da evangelização. 1ª. ed. São Paulo: Paulinas. 2014. p. 225

FRANCISCO, Papa. Carta do Papa Francisco a todos os fiéis para o mês de maio de 2020. Disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2020//documents/papa-francesco_20200425_lettera-mesedimaggio.html.> Acesso em: 02/05/2020.

MURAD, Afonso. Maria: Toda de Deus e Tão Humana. ___. Maria na Devoção e na Liturgia: Maria e as “Nossas Senhoras”. 1. ed. São Paulo: Paulinas.  2012. p. 208

MURAD, Afonso. Maria: Toda de Deus e Tão Humana. ___. Maria na Devoção e na Liturgia: Devoção, Continuidade e Renovação. 1. ed. São Paulo: Paulinas.  2012. p. 209

RAHM, Harold. Mãe Das Américas.___. Progressos da Devoção. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola. 1985. p. 96

O sepulcro passou!

A lógica da cruz é misteriosa, pois anestesia a ideia de felicidade difundida em nosso mundo (FRANCISCO, 2018, p.82). São Paulo nos aponta para o alto, onde o Senhor está vitorioso, e lá, a nossa “vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3, 3). São Boaventura já dizia que “a nossa lógica” leva a uma alegria eterna e não de aparências. Não pertencemos mais às sombras da antiga culpa. Para os judeus, o sábado passou e agora, o povo pode voltar as suas tarefas. Mas há algo diferente: as mulheres ao visitarem o túmulo de Jesus testemunham a inexistência do corpo do Mestre. O sepulcro se tornou lugar de passagem. A natureza “treme”, pois o “grão que caiu na terra, produziu vida (Jo 12,24), e assim, todos podem “ter vida em abundância” (Jo 10,10). Aquele túmulo frio, sem vida, agora se encontra vazio. O anjo que surge na cena da ressurreição não tira a pedra, mas comunica que a vida venceu a morte. A alegria foi superior ao desespero. Os guardas tremem, pois de fato, os sistemas a que estão “atados” não deixam que os mesmos vivam o ideal cristão. O medo impossibilita as relações fraternas e leva à morte. Porém, o que aquelas mulheres veem agora gera um sentimento de muita alegria e o Senhor as pede: “Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galiléia, lá me verão” (Mt 28,10).

A ressurreição de Jesus é motivo de alegria e exultação (Sl 118, 24), pois a todos que Ele se manifesta, tais alteram profundamente o seu viver. Páscoa é passagem, é caminho de mudança, transformação. Requer muitas vezes dores inimagináveis e dias de luto; todavia, Cristo foi fiel e por ser fiel, dignificou-nos novamente. Do Éden que outrora fomos expulsos (Gn 3,23), Jesus nos apresenta um novo jardim. As coisas antigas ficaram e com elas precisamos junto ao Mestre prosseguir. Mais uma vez Ele estará conosco e vitorioso, a morte já não usa mais de seu aguilhão (1 Cor 15,55).

Com o auxílio e cuidado de todos aqueles que querem o bem, venceremos esta pandemia e além disso, deixaremos para trás o “perigo da onipotência humana” (CANTALAMESSA, 2020) que extermina a vida e não a deixa germinar, pois onde o “vírus da morte” aparece, temos “de novo o jugo da escravidão” (Gl 5,1).

Portanto, tenhamos coragem, pois como Ele venceu o mundo (Jo 16,33), nós também conseguiremos sair desta situação temorosa. Eis a nossa certeza: Ele nos amou e por nós se entregou (Gl 2,20). Tenhamos uma Páscoa de esperança em tempos novos e abracemos esta certeza. Aleluia, aleluia.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DO PEREGRINO. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2011

BÍBLIA SAGRADA. Tradução Oficial da CNBB. 1 ed. Brasília: CNBB, 2018.

CANTALAMESSA, Raniero. Pregação da Sexta-feira da Paixão do Senhor. Roma, 2020. Disponível de: <https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-04/pregação-sexta-feira-paixao-raniero-cantalamessa-vaticano> Acesso em 11 Abr. 2020

FRANCISCO. Gaudete et Exsultate: sobre o chamado à santidade no mundo atual. São Paulo, Paulus, 2018.

“Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (Rm 12,12)

“Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (Rm 12,12)

O momento que vivemos requer de nós um olhar de cuidado e empatia para com os que sofrem. São tempos difíceis que geram em nós o sentimento de angústia, dúvida e desespero.
Mas nunca devemos perder a confiança em Deus; Ele sim está sempre ao nosso lado, como um pastor que cuida das suas ovelhas. “Como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10, 15).
Neste Domingo de Ramos iniciamos a Semana Maior da fé católica, a Semana Santa. Este ano vamos vivê-la de maneira diferente, em nossas casas. Mesmo sem a oportunidade de vivenciar as celebrações nas igrejas, as grandes procissões, os teatros da paixão e tantas outras programações comuns nesse período, não percamos o encanto por Jesus. Façamos nós a nossa Semana Santa. Soframos com Jesus, morramos com Jesus e acima de tudo, Ressuscitemos com Ele. “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Em meio à escuridão, busquemos a luz. A luz que é Jesus, que guia nossos passos e nos conduz à alegria, uma alegria plena e verdadeira. Deus jamais esquece a aliança que fez conosco; que assim também nós não esqueçamos dessa aliança. “vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele…” (Eclo 2,8).
Continuemos em constante oração, tendo sempre confiança no Senhor, e acreditando em sua poderosa misericórdia.

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,31) – Um olhar sobre a realidade

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,31)

A antiga e tão jovem Palavra de Deus se faz sempre contemporânea aos homens e mulheres de cada tempo da história. Nos dias atuais, com o presente surto causado pela pandemia do Covid-19, uma das formas mais eficazes de cumprirmos este mandamento do Senhor de amor ao próximo é, nos resguardarmos todos dentro de nossos lares. Sim, obedecendo às normas estabelecidas pelas autoridades de nossos tempos com relação aos devidos cuidados a serem tomados. Isso é sem dúvida, uma forma de amor próprio e amor ao próximo.

A genuína e autêntica liberdade é expressa não só pelo ato de sermos responsáveis por nós mesmos, mas em também nos sentirmos corresponsáveis pela causa do outro. A causa do amor ao próximo e o zelo com ele é sempre uma urgência inadiável. Este princípio de alteridade, torna o homem mais humanizado, capaz de, desprendido das amarras egocêntricas, conseguir enxergar no horizonte da vida a presença do próximo como uma extensão de um outro eu.  É preciso que no meio de todo este caos vivido nos dias atuais, encontremos um motivo real que nos faça aceitar a reclusão,bem como as devidas precauções,sem preconceito ou arrogância, esta causa é, sem dúvidas, o amor. Somente o amor leva o ser humano à obediência. Amar é a única razão pela qual alguém consentesubmeter-sea situações racionalmente incompreensíveis no presente momento.

Não se deve jamais interpretar este sombrio momento como um castigo de Deus, por alguma falha provindo da miséria humana. Não! “Deus é amor” (1Jo 4,8), e o amor não se interessa em castigar, não se regozija com o sofrimento, mas versa-se em acolher, educar e salvar o gênero humano em sua inteireza. Em meio a toda tempestade desta pandemia que assola diversos povos, deve-se buscar enxergar um sinal da graça de Deus. Não que Ele tenha querido ou planejado tal atrocidade, mas mesmo em meio às tempestades, a voz do Criador fala às criaturas. Nos momentos de ruas, shoppings e até mesmo universidades vazias, os lares estão povoados; os templos, desde os pequenos às grandes catedrais, encontram-se vazios, os lares se tornam templos de oração, um lugar de encontro com o Sagrado; as mesas dos restaurantes encontram-se vazias, mas nas mesas dos lares, esposo e esposa, pais e filhos, poderão tomar juntos as refeições, poderão olhar nos olhos, dialogar sem a pressa dos ponteiros do relógio. Talvez agora, diante do presente caos lá fora, dentro de casa torna-se possível o encontro familiar tão protelado e impossível de se acontecer por decorrência dos horários incompatíveis, muitas vezes causados pelo sistema consumidor.

Sabemos o quão desolador tem sido estes dias vividos de tribulações. É preciso cuidar para que estas realidades não nos façam cair em um abismo de desesperança. É dever de todos nós, homens e mulheres de boa vontade, cumprirmos com as obrigações que nos são incumbidas e lançarmos nosso olhar a Jesus, Ele foi a esperança do Pai para redenção da humanidade, e é a nossa esperança para vencermos vigorosamente as adversidades. Devemos, pois, fincar nossa confiança no Senhor do alto da Cruz, Ele é nossa esperança e como bem diz o Apóstolo: “a esperança não decepciona” (Rm 5,5).

Todos nós, peregrinos neste mundo, enquanto marchamos rumo à Jerusalém celeste, estamos sujeitos às realidades muitas vezes pavorosas e dolorosas que se nos apresentam, contudo, não devemos temer, pois não estamos sós, nosso Senhor nos prometeu sua companhia até que o tempo se consuma (Cf Mt 28,20) e Aquele que É a Verdade, jamais nos enganaria. Em meio ao medo dos ventos tempestuosos, só há uma maneira de não perdermos a felicidade que o Criador implantou em nós desde a criação: confiarmo-nos ao Senhor. Pois como bem disse o Salmista no refrão; “É feliz quem a Deus se confia” (Sl 1). É preciso confiarmos sempre no Senhor, inclusive quando nossas capacidades se tornam incapazes. Confiemos n’Ele, ainda que o medo faça nossos passos vacilarem, mas que nossa fé encoraje nosso espírito a firmar-se no Senhor, nosso Rochedo.

Por fim, contemos sempre com a força da graça de Deus e com a fiel intercessão de Maria Santíssima, a Mãe do Senhor da Cruz e de todos os peregrinos da terra. Que Ela rogue por nós a seu Filho, para que o amor e o zelo ao próximo nunca nos falte.

Seguidores ou PERseguidores?

Seguidores ou PERseguidores?

“Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4,19). A todas as pessoas de boa vontade que, pela Igreja de Cristo, receberam a graça do Batismo, este apelo de Jesus se faz sempre novo: o Senhor, Bondoso Mestre, chama-nos a segui-Lo. Mas, nos tempos hodiernos poder-se-ia alguém perguntar: mas como segui-Lo se não O estamos enxergando? A resposta será imediata e convicta: o Cristo de Deus permanece presente no mundo através de sua Santa Igreja, uma vez que a Igreja é o Sacramento de Cristo, ou seja, seu sinal visível no meio dos homens. Portanto, o caminho do discipulado a Jesus, começa na Igreja e segue mundo a fora.
Em sua santa sabedoria, Jesus escolheu Pedro para conduzir sua Igreja em seu nome e deu-lhe o poder de estabelecer a comunhão entre o céu e a terra (cf. Mt 16,18-19). E Pedro, o primeiro Papa, assim o fez conduzido pela força do Espírito Santo. Desde Pedro, muitos outros homens de coragem, escolhidos pelo Espírito Santo, guiaram a Barca de Cristo por este mundo dilacerado por discórdias. Hoje, LEGITIMAMENTE, o Pedro a guiar a Barca de Cristo que é a Igreja, é o Papa Francisco, homem de Deus, que com o farol do Espírito vem lutando para clarear as vistas de tantos homens perdidos na escuridão do egoísmo e ignorância.
Percebemos nas celebrações litúrgicas que nossos templos estão cheios, bancos sem espaços. Mas, após ler, ouvir e presenciar tantos ataques à Igreja e ao Sumo Pontífice, paira uma pergunta: as capelas estão cheias de seguidores ou perseguidores? Muitas pessoas que se intitulam católicas e que inclusive são batizadas, vão às Celebrações litúrgicas, mas mal saem pela porta e já começam a difamar a Igreja. Pessoas que cultivam tal costume, vão de fato à Igreja, mas não são seguidoras e sim perseguidoras. Este tipo de comportamento jamais parte de quem optou genuinamente seguir a Jesus, pelo contrário, é como um retrato bem pintado dos fariseus que iam atrás de Jesus perseguindo-o no intuito de tramar ciladas contra Ele.
Percebe-se ainda nos tempos atuais, pessoas que leram uma página do Catecismo, do Código de Direito Canônico ou de algum documento da Igreja e já se sente doutoras para tecerem críticas desfundamentadas à Igreja. Alguns, em suas infidelidades aos bons modos e à ética, se referem ao Papa Francisco com vocábulos inescrupulosos. Ninguém é obrigado a concordar com todas as ideias do Santo Padre, porém, todos os católicos que gozam de boa consciência devem prezar pela unidade da Igreja. Caluniar o Papa, difamar a Igreja e criar situações de divisão, é ir contra a prece de Jesus: “que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós” (Jo 17,21). Partindo dos princípios evangélicos, entende-se com distinção que a universalidade da Igreja de Cristo, tem por objetivo unir todos os povos. Portanto, nunca, jamais um católico deve ser causador de contendas e semeador da discórdia. Somos chamados à levarmos nos lábios a Boa Nova de Jesus e proclamar o tempo da graça do Senhor e jamais difundir as práticas farisaicas.
Que o Senhor, Bondoso Mestre, nos ajude a sermos melhores cristãos e que Maria, Mãe da humanidade interceda por nós, para que seguindo seu amadíssimo Filho, possamos nós percorrer os caminhos da fraternidade.